segunda-feira, 20 de abril de 2015

Norte político vem do Palácio do Jaburu


O governo não tem mais o que falar e fica pregando filosofia de botequim, achando que os brasileiros que se opõem aos desmandos e malfeitos, estão misturando desinformação e ideologia: a incapacidade de os indivíduos perceberem os limites do próprio conhecimento e se deixarem levar tão somente por preconceitos, ódios e ranços ideológicos. E continuam bradando que, hoje, vemos no País uma epidemia do que poderíamos chamar, parodiando Zé Ramalho, de admirável ódio novo. Não tão novo assim, é verdade, pois sob forma endêmica, ele existe há séculos, só recentemente perderam as peias e se materializou numa assombrosa epidemia de intolerância e de saudosismo do passado ditatorial. Nunca antes na história deste País se falou tanta bobagem. Acreditam que ainda são os donos da verdade. Os exemplos pipocam e ameaçam pulular panela afora. Agora, ficam inventando que só fazemos xingamentos por meio das redes sociais e os passos seguintes serão ameaças e agressões. Quanta infantilidade! Apenas continuamos na mesma trincheira, a favor do fim da corrupção e da falta de governabilidade. Não vai ser fácil, mas assim como muitos brasileiros enfrentamos o touro a unha. Estamos pagando um preço muito alto pelas reformas que não vieram quando condições favoráveis existiam. É muito desolador ver uma flor murchar, especialmente quando nos passavam a ilusão de que não murcharia jamais.
No entanto, nessa atual Babilônia, o governo, aos poucos, abre mão de suas prerrogativas, numa tentativa desesperada de sair da crise político-administrativa. De chofre, num primeiro momento, para tentar corrigir um monte de barbeiragens feitas com as contas públicas durante o mandato anterior. A presidente terceirizou a condução da política econômica e recorreu a Joaquim Levy, um adepto das receitas tucanas. O poder, agora, se concentra numa troika peemedebista: Michel Temer, Renan Calheiros e Eduardo Cunha. O governo delega a outro governo, abre mão mesmo, da condução de sua articulação ao PMDB. Se antes o PMDB ditava os rumos do governo por meio do Congresso, ao sabor de suas conveniências, agora o partido irá estabelecer o norte político do Palácio do Jaburu.
Ademais, o governo fica como camelo chapa-branca, bradando no deserto cada vez mais árido de sua própria incompetência. O que pretendem agora, querem enxugar gelo com pano molhado. Meus colarinhos ficaram roxos de ver tanta incapacidade respondem: o caos. Será possível? Será o resultado inescapável da insensatez geral, e, na moldura de tom pastel, destaque, por exemplo, para os vislumbres dos eminentes cavaleiros do apocalipse. Sopram ventos de que haverá uma eventual substituição das empreiteiras nacionais atingidas pela operação Lava Jato, por empresas chinesas. Aliás, patrocinadoras de um polpudo empréstimo feito à Petrobras. Será que o Império do Sol é mais confiável? Isso tudo se deve ao governo que só comete deslizes e irresponsáveis tolices.
Quem diria, hein? Todo poder emana do PMDB. A residência oficial de Temer é para onde se deslocará o eixo das grandes decisões. Lembram a cara de paisagem do vice-presidente nos primeiros 90 dias da presidente, ficava no limbo do isolamento, sem poder relevante, embora tivesse vontade de dar uma ajudazinha. Esqueceram que Temer é um homem habilidoso nas articulações de bastidor como no trato das palavras. Com sua experiência deverá se segurar para não colocar a hierarquia à frente da presidente que o distinguiu.
A presidente deve estar ruborizada! Levy dita os rumos da economia e impõe uma agenda independente de Dilma. Mudou o condutor do leme político do governo. E fez uma aposta arriscada. Tirou a função do PT e entregou-a ao PMDB. Com Temer convertido em uma espécie de primeiro-ministro. Caso consiga debelar a crise com o Congresso, ficará mais fortalecido e o PMDB se tornará mais decisivo em 2018. Agora, o PT percebe que pode tornar-se simples figurante. 

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SERGIO BARRA é médico e professor

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