sexta-feira, 17 de abril de 2015

Égua, Dilma



Égua, Dilma! Nós, paraenses, estamos indignados com a situação do Brasil. E, para deixar isso bem claro, vou me dirigir à Vossa Excelência em nosso dialeto próprio, o paraensês, precisamente no seu subdialeto equino.
Égua. É isso mesmo. A égua é um dos bichos mais citados pelos paraenses. Acho que durante o dia cada um de nós lembramos da égua dezenas de vezes. Muito raro acabarmos uma jornada sem alguma eguice. Impossível. Em nosso dialeto, a égua tem valor de interjeição, mas é de uma riqueza linguística encantadora. Nas ruas de Belém, eu nunca encontrei uma égua andando – difícil escrever isto – , mas acho todo dia mil situações que me remetem à égua. Entendeu, Presidente? Bem, vou falar para a senhora sobre os três tipos de governo que existem, segundo os paraenses: o governo égua, o governo pai d’égua e o governo filho de uma égua. Isto é o Pará.
Dilma, um governo égua é um governo que não diz a que veio. Estanca. Dá coice. Teima. A gente, aqui no Pará, quando vê um governo assim, além de adjetivá-lo de égua todos os dias, grita constantemente contra ele: “Égua! Égua desse governo!” Os paraenses são ótimos para medir o nível de eguice dos  seus governantes. Nem precisava Vossa Excelência gastar com institutos de pesquisas em terras paraenses, bastava instalar egômetros em nossas ruas. No final do dia, os decibéis iriam lhe dizer com certeza se o seu governo é ou não um governo égua.
E um governo pai d’égua? Ah, Presidente, quando o paraense invoca o pai da égua é porque a coisa tá boa mesmo. A gente diz assim: “Que tacacá pai d’égua!”, “Que sanduba pai d’égua!”, “Férias pai d’égua!”, e assim vai. Usamos a figura do pai desse bicho até para gente. Veja este exemplo máximo: “Olha!.. Gostei do teu pai! O teu pai é pai d’égua!”. Por favor, não tente entender essa genealogia, Presidente, só para os iniciados. Então, o que é mesmo um governo pai d’égua?
Dilma, um governo pai d’égua é um governo que nos surpreende positivamente. Aqui no Pará, já tivemos alguns, desde o tempo do memorável Antônio Lemos. Mas houve outros: o Papudinho foi um governo pai d’égua. O Almir Gabriel, também. Dizem que o primeiro mandato do Edmilson foi muuuito, muito pai d’égua. Veja, portanto, que todo mundo pode ser pai d’égua, independentemente do partido.
O que a gente quer é isso: que o Brasil tenha um governo pai d’égua. Um governo que coloque o País no rumo que ele merece. Muita gente achava o governo Lula pai d’égua. Égua, o camarada não sossegava. Um dia a empregada de casa, vendo um avião passar, me disse: “Olhe só: lá vai o Lula!”. Perguntei como sabia, e respondeu que tinha lido “PT” escrito na asa. “Égua! – disse pra ela – tu achas que isso é partido?”. Coitadinha, era uma empregada pai d’égua, mas vítima de uma educação filha de uma égua. Opa! Escapuliu. Ainda não queria dizer isto, mas acho que está mesmo na hora.
“É-gu-a!”, berra o paraense quando a medida transborda. “Governo filho de uma égua!”. É, Dilma, agora a coisa ficou feia. Quando a gente deixa a égua e o seu paizinho quietos, e, de uma arrancada só, recorre à cria da égua – macho ou fêmea, não importa –, o sangue cabano ferveu.
Dilma, um governo filho de uma égua é um governo que não atende mais às aspirações do nosso povo. O paraense anda muito indignado. O custo de vida é alto aqui. Altíssimo. Vamos comprar açaí, e gritamos: “Égua! Trinta reais o grosso! Governo filho de uma égua!” No Pará é assim, Dilma. E os escândalos? Presidente, alguns andam tão indignados que,por causa disso, esquartejaram a égua em três pedaços e a invocam pausadamente, assim: É–GU–A!! Aqui, o ritmo é diferente do parágrafo de cima. Mais lento. E, no Pará, quanto mais lenta a égua, pior. Cuidado. Pense na sugestão do egômetro.
“Filhos de uma égua!”, gritam os paraenses contra os escândalos. “Como é que a Presidente nunca sabe de nada, se ela passa o tempo todo dizendo “no meu governo”?”, surtam de vez parauaras na eguice. Os paraenses não aguentam mais ouvir falar nesse assunto, mas precisam ouvir porque acontece mesmo. Égua! A gente queria abrir os jornais e ler coisas boas, do tipo: “Brasil aumenta o orçamento para a educação”, “Brasil resgata meninos de rua”, “Brasil é o líder na transparência”, etc., etc. Ah, sim, teríamos então um país pai d’égua, com melhor distribuição de renda, menos violência, mais lazer. Um país sério, que cuidasse dos seus filhos do nascimento até a morte, como faz a Suécia, por exemplo.
Dilma, assim classificamos os governos no Pará. Tá na boca do povo. Resta saber se o seu governo é um governo égua, pai d’égua ou filho de uma égua. Um egômetro resolve.

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RUI RAIOL é escritor
www.ruiraiol.com.br

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