quarta-feira, 4 de março de 2015

Fotógrafo Luiz Braga lança livro e participa de debate em BH



No site Divirta-se

“Eu pinto com luz”, afirma o fotógrafo paraense Luiz Braga. Com registros de populações ribeirinhas ou das periferias da Região Norte, Braga vem construindo uma obra celebrada no Brasil e no exterior. Em 2009, participou da Bienal de Veneza. Chama a atenção, no trabalho do artista, como ele compõe imagens que, de forma sintética, integram valores estéticos e sociais, possibilitando uma observação do real que não se reduz ao factual. Com essas características, suas fotos proporcionam uma extensa gama de considerações.

Os trabalhos do fotógrafo foram reunidos no livro Luiz Braga (ed. Cobogó), organizado pelo também fotógrafo Eder Chiodetto, que foi lançado às 19h30 desta terça-feira, no Teatro Klauss Vianna, com a presença do autor, que participou de bate-papo com o público.

Luiz Braga até começou a fotografar em preto e branco. Mas, nos anos 1980, enveredou por um caminho que, segundo diz, dá à cor o sentido de elemento fundamental. Não se trata de apenas capturar a luz natural. “O que me interessa são provocações, sentimentos, emoções. Subverto a cor dos ambientes com várias experimentações e técnicas”, conta, sem esconder a busca por imagens “mais subjetivas”. Com três décadas de atividade dedicadas à fotografia, Braga já ouviu observações lisonjeiras, como a de alguém que, ao falar de um tom de cor, disse que parecia um azul ou um verde das fotos de Luiz Braga. “Foi um honra, o que faço é mais do que fotografar”, conta preocupado com a possibilidade de a frase soar pretensiosa.

Há temas privilegiados nas imagens: “A periferia de Belém, onde se aloja quem vem do interior”, cita. “Vejo na região dos ribeirinhos algo por que tenho consideração: simplicidade, singeleza”, afirma. Braga fotografa tais regiões desde 1980, “quando a periferia não estava na Globo, e as pessoas torciam o nariz para ela, por considerarem brega e marginal”. Como Luiz não morava por lá, andou ouvindo críticas e questionamentos à sua escolha. “Meu pertencimento é afetivo. Vejo na periferia de Belém histórias muito interessantes, heróis anônimos que, para mim, são os verdadeiros grandes heróis.”

Luiz Braga não separa seu trabalho em fases. Ele considera que sua obra segue um fluxo de contínua expansão. Ele se define como alguém intuitivo e avesso a coisas muito preconcebidas. “Gosto de deixar a vida me levar”, brinca. O fotógrafo já ganhou vários prêmios e tem trabalhos nos acervos de vários museus, entre eles o de Arte Moderna de São Paulo, o Centro Português de Fotografia e o de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

Perfil  Luiz Braga tem 58 anos e iniciou-se na fotografia aos 11. Sua primeira exposição foi em 1979. “Quando decidi me dedicar à fotografia, ela não tinha o glamour que tem hoje”, recorda. Colaboraram para que a atividade ganhasse relevância, na opinião dele, ações como as semanas nacionais de fotografia, realizadas em várias partes do Brasil, disseminando o conhecimento da fotografia brasileira. Outra contribuição importante, em Belém, segundo aponta, foi a formação de grupos de fotógrafos que promoviam discussões, organizavam palestras, jornadas, exposições. “Isso ajudou a criar um grupo que se dedicava à fotografia com seriedade e com intenção autoral.”

A movimentação dos fotógrafos em Belém, como lembra Luiz Braga, foi bem recebida no Salão Paraense de Fotografia, criado em 1982. “Temos, no Pará, uma das fotografias mais pujantes do Brasil. Produção que se integra ao contexto que tem também grandes músicos, boas orquestras, escritores importantes. Apesar do pouco incentivo, temos grande arte”, avisa. Com relação ao contexto brasileiro, Luiz Braga destaca como surpreendente o fato de o Brasil não perceber as artes visuais (“Que estão por toda parte de forma forte”) como representação da nacionalidade tão eloquente quanto o futebol, a música e o carnaval. “Existe uma cegueira que faz com que não incorporemos a produção esplêndida de artes visuais como um valor.” 

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