segunda-feira, 16 de março de 2015
Ambiente altamente inflamável
Faz três semanas que o País virou um verdadeiro caldeirão social, fervilhou por vários dias em meio a confusões, brigas de ruas, paralisações de rodovias por caminhoneiros, greves de professores e metalúrgicos e o povo cada vez mais revoltado com o aumento do desemprego e do custo de vida. Enquanto isso, em vez dos ânimos serem serenados, atores políticos adicionaram mais lenha à fogueira. O que tornou o ambiente altamente inflamável. Turmas de militantes se digladiaram em frente à ABI (imagem acima), durante um ato de defesa da Petrobras. Era uma manifestação em favor do governo Dilma Rousseff. Organizado pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) e pela Federação Única dos Petroleiros (FUP), o ato público, na verdade, era a “defesa da Petrobras”, bandeira política empunhada pelo PT para tentar se contrapor ao bilionário escândalo de nossa maior estatal.
Esse tipo de manifestação apenas simboliza o ambiente conturbado e perigoso vivido pelo Brasil, dois meses depois de iniciado o segundo mandato da presidente. É o flagrante contraste entre as promessas de campanha não cumpridas e a realidade da só um empurrãozinho para engrossar o caldo. A somatória de todas essas insatisfações cria um ambiente de neurose e descontrole que, em muitos aspectos, se mostra mais grave que o clima de convulsão social de junho de 2013, quando as ruas das capitais foram tomadas por gigantescas manifestações e quebra-quebras que levaram insegurança e prejuízos à população.
Há um farto cardápio para a degustação, mas o prato principal são os ingredientes da insatisfação: os números da economia tiveram acentuada piora nos últimos meses; o pacote de correções dos benefícios sociais anunciado pelo governo para reduzir as despesas surpreendeu principalmente os militantes governistas. Os cortes nas áreas trabalhistas e previdenciária; a campanha eleitoral da candidata Dilma criou a ilusão que o País vivia uma situação estável na economia e na área social, todos sabem que os dois setores passam por sérias dificuldades; a corrupção na Petrobras com as revelações estarrecedoras da operação Lava Jato expõem as falhas na administração e na fiscalização dos bilionários recursos da estatal brasileira.
E, para que a fogueira continuasse mais inflamável chega a famosa Lista de Janot e, não há como negar, atinge frontalmente a gestão da presidente. Pior ainda, ex-ministros e líderes no Congresso estão no epicentro do escândalo. Os pedidos de inquérito do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, empurram a crise política para o Congresso, que se distancia cada vez mais do governo e ingressa em uma crise institucional sem precedentes. A divulgação antecipada e seletiva dos nomes dos presidentes do Senado, da Câmara e de outros, ensejaram comemorações que se seguiu no Planalto após a notícia foram a gota d’água para entornar de vez o caldo nas relações entre o Executivo e o Legislativo.
Quem procura, acha. Esse, é o resultado do descontentamento social a mistura da vitória da presidente na última eleição com as medidas impopulares no início de seu mandato - tudo com as pitadas de suas promessas não cumpridas. A separação, agora abissal, entre o Planalto e o Congresso, vai engessar a presidente que terá muitas dificuldades para negociar. O estrago é imenso e ainda está muito longe de atingir o pico. Dilma se irrita com muita facilidade, desentende-se com seus auxiliares mais chegados e passa uma descrença geral que transformou o país em um mar de equívocos.
No ápice do escândalo do petrolão, ao saber que da inclusão de seus nomes, Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, e da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), resolveram declarar guerra ao Planalto. A presidente, Aloizio Mercadante (Casa Civil) e José Eduardo Cardozo (Justiça) conduziram a situação para tirar proveito e levaram tiro no pé. O estrago é imensurável. O lodaçal é tão tenebroso que a flor-de-lótus se nega a germinar.
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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
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