segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015
O grande entroncamento
Dia desses, encontrei um amigo em uma livraria, aqui mesmo, próximo de casa. A conversa foi rápida e ele foi pragmático: estás preparado para a prolongada ressaca da Quarta-feira de Cinzas? Respondi: fazer o quê, né? Pois é, o país padece de uma espasticidade sem fim. Com um país espástico, como dar-lhe musculatura para que saia da imobilidade que nos foi imposta. O governo precisa por os pés na terra e parar com devaneios, pensando que caminha sobre brumas. Vamos ter muitas crises e, agora, serão bem mais agudas: a principal é a crise econômica, e depois, crise política, crise social, crise hídrica (principalmente, no Nordeste e Sudeste), crise energética e outras com menores espasmos.
Quando nos encontramos diante de um entroncamento, não nos resta senão refletir com a cabeça sem as costumeiras ansiedades. O que nos espera no final de cada caminho a ser escolhido? Vivemos um momento muito difícil e grave, qualquer decisão será pejada de consequências para o destino do povo brasileiro. Há os que acreditaram na proposta do governo que conjugasse a retomada do crescimento com a manutenção de uma política social distributiva da renda nacional, e isso significou mais da metade do eleitorado. Obviamente, essa diretriz, todos sabem, norteou as políticas públicas nos últimos 12 anos.
Apesar da pouca proximidade com os quadros governistas, o sindicalismo está incomodado com a forma como foi encaminhado o “pacote de maldades” do ministro Joaquim Levy, que incluem mudanças significativas, relevantes mesmo em benefícios trabalhistas, entre eles o seguro-desemprego, as pensões e o abono salarial. Mas, da forma como foram encaminhados, no fechamento do mandato passado, fizeram com que corressem atrás. No entanto, as medidas de austeridades do governo estimularam os sindicatos vinculados à Central Única dos Trabalhadores, historicamente ligada ao PT, a engrossar os protestos sindicais de janeiro, embora com menor apetite que os integrantes da Força Sindical, liderados por Paulinho da Força, aliado dos tucanos nas eleições de 2014.
Além disso, a oposição cresceu com a perda de credibilidade da presidente, que quer através de manobras e maquiagens fechar as contas públicas com o meu, o seu e o nosso dinheirinho. Na verdade, hoje, a oposição passa a ser vocalizada por milhões de pessoas que entenderam o que está acontecendo, ou seja, algo em torno de 51 milhões de votos. E mais, nesse início de segundo mandato crescem os movimentos em defesa do impeachment da presidente. Em qualquer roda de conversa ou redes sociais, não há quem não cogite sua saída. Ademais, mais de 60% dos brasileiros a veem como alguém que mentiu deliberadamente para vencer nas urnas, quando percebeu estar reeleita, com a soberba habitual mostrou a verdadeira face dos fatos, que antes tentava encobrir.
Os ventos mudaram e as águas tranquilas que antes navegavam, se agigantaram e se agitaram, as velas se romperam e o barco está à deriva, sem nenhum controle. Existe a previsão de naufrágio. Eles perderam o azimute, bússola e não sabem onde está o norte. Falta competência e criatividade para jogar o bom combate. O governo precisa de muita humildade para reconhecer seus erros, e que foram muitos, se quiserem corrigir sua rota. O povo cansou, da mesma maneira, é igualmente legítimo que o soar da inquietação dos brasileiros seja ouvido em alto e bom som e que daí decorram respostas à altura do que almejam e do que lhes foi prometido. É preciso que se acabe com os excessos de remédios e contorcionismos jurídicos. Apenas, justiça!
De verdade, muitos gostariam, mas, acredito ser quase impossível, o voto distrital, a não obrigatoriedade do voto e o modelo parlamentarista. Poderíamos experimentar o momento Eduardo Cunha e tentar diminuir essa densidade legislativa que nos permitiria, num futuro bem próximo, fazer um trabalho de decantação, separando impurezas e malfeitos que tanto nos levam ao abatimento.
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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
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