É sempre bom lembrar que o Império Bizantino foi uma prolongação do Império Romano, a fundação e a queda de Constantinopla foram fundamentais tanto para seu estabelecimento quanto para sua dissolução. No século IV, o declínio de poder do Império Romano já era evidente no Ocidente, principalmente em função da invasão que os povos germânicos – também chamados de bárbaros – empreendiam em suas fronteiras. Diante dessa situação, o imperador Constantino resolveu transferir a capital do Império Romano para a cidade oriental de Bizâncio, conhecida mais tarde como Nova Roma, em 11 de maio de 330. Um novo marco na história se estabelecia.
Depois da configuração do Império Bizantino, com vários ciclos de declínio e recuperação. Em seguida registrou-se o declínio de Constantinopla, que tinha feito várias alianças com os turcos. Após travarem várias batalhas e muitas promessas que não foram cumpridas, começou a complicar para Constantinopla. Como consequência, houve o Grande Cisma do Oriente. Com a queda de Constantinopla em 1453, tentativas de conciliação cessaram e as excomunhões entre as duas partes continuaram. Somente no século XX, sob o papado de Paulo VI e o governo do patriarca Atenágoras I, elas foram revistas e retiradas em 1966. Porém, o debate sobre o problema secular ainda continua na atualidade sem nenhuma aparente solução.
Hoje, a Turquia parece dar adeus à Europa, cada vez mais seu presidente Recep Tayyip Erdogan se interessa menos por Bruxelas e se parece mais com Vladimir Putin. No domingo, 14 de dezembro de 2014, a polícia turca invadiu órgãos dos grupos de mídia ligados à TV Samanyolu e ao jornal “Zaman”, o maior do país. Ambos são ligados ao clérigo oposicionista Fethullah Gülen e foram veículos de denúncias de corrupção contra o presidente Erdogan. Foram detidos mais de 30 funcionários e um chefe de polícia, acusados de calúnia e conspiração “terrorista”. Erdogan conseguiu expurgar esses órgãos e, após sua eleição como presidente no primeiro turno, em agosto, assumiu um poder quase imperial, simbolizado pelo novo palácio de mil quartos, construído de maneira irregular, do qual tomou posse e por sua exaltação da grandeza do passado islâmico e otomano.
Apesar das advertências da União Europeia, para a qual as prisões foram incompatíveis com a liberdade de imprensa e com respeito à lei e aos direitos fundamentais exigidos de um país com pretensões a integrá-la, o presidente turco simplesmente deu de ombros: “Não estamos preocupados com que a EU diga, quer nos aceite como membros, quer não”. A Turquia integrou a Otan e as organizações europeias quase desde a sua fundação e fez sua proposta formal de adesão à então comunidade europeia em 1987, mas diversos problemas políticos e econômicos foram invocados para adiá-la. No início dos anos 2000, a postura dos governos europeus e campanhas explícitas na mídia e nos Parlamentos deixaram claro que um grande país muçulmano, fizesse o que fizesse, jamais seria aceito como integrante pleno da organização.
É óbvio que essa atitude contribuiu para o desprestígio do secularismo republicano que governara a Turquia desde 1923 e a vitória de Erdogan em 2003. Embora insistisse a negociar uma eventual adesão à Europa, o novo governo tendeu cada vez mais a se aproximar dos vizinhos muçulmanos do Oriente Médio e da Ásia Central e a se afastar de Israel. Os fatos posteriores à Primavera Árabe acabaram de enfurecer o governo islâmico, que viu no golpe militar no Egito e a falta de apoio armado dos EUA aos rebeldes sírios como uma traição e os protestos de junho de 2013 como resultados de uma conspiração internacional para derrubá-lo.
Na verdade, Erdogan parece disposto a virar as costas ao Ocidente e adotar o modelo nacionalista e autoritário de Putin. A Turquia, por sua vez, mostra crescente simpatia pelo projeto russo e chinês de um bloco eurasiático. Ancara e o Kremlin se aproximam nos métodos.
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SERGIO BARRA é médico e professor
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