terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Em favor da utopia

Por ANA DINIZ, jornalista, em seu blog Na rede



Entre o Natal e o Ano Novo, o tempo é de utopia, mais que de festas.

Porque estas duas invenções humanas celebram o nascimento e o renascimento, ou seja, a esperança. E não há esperança sem utopia.

Conservadores usam a palavra utopia como um pejorativo com que qualificam o que consideram impossível e até ingênuo ou ridículo. Mas, frequentemente, têm que se render ao que achavam ser utópico: ao movimento pacifista, por exemplo, à participação das mulheres na política, à eletricidade... e muitas outras coisas que gente aparentemente sonhadora, mas na verdade de muita fé, ousou construir.

A maior utopia, a da sociedade perfeita, onde todos vivam em paz e harmonia, é buscada por todos: mesmo quem não acredita nisso tem um pouquinho de esperança. E é esta esperança que faz com que todos façam votos de paz neste período, mesmo se, no momento seguinte, insultem ou agridam. Um dia, talvez...

É impossível chegar à concretização da utopia, porque haverá sempre uma ambição a mais, um defeito a corrigir e, sobretudo, o fato de que a utopia de cada um é diferente da dos demais. Há pontos comuns, é verdade. Buscar estes pontos em favor da paz traz o sonhado para mais perto da realidade.

Minha utopia, neste momento, é limitada, mas tão difícil como qualquer outra: um 2015 melhor do que foi 2014. Sonho com isso porque não vejo que vá acontecer; mas a dificuldade já é ruim em si mesma, não precisa ser aumentada com terrores antecipatórios. Diante dos preços sendo reajustados toda semana; do sumiço das moedas divisionárias, do troco; do estouro iminente da bolha imobiliária com quebradeiras previsíveis; da possibilidade de perdermos nossa maior estatal; da violência extrema em que mergulhamos; dos nossos times de futebol em decadência – prefiro sonhar, sim, que de alguma maneira a inflação será domada, a bolha imobiliária será emurchecida suavemente, a Petrobrás resistirá, a violência diminuirá e nossos times encontrarão novos caminhos.

Haverá meios, por certo, que podem trazer minha utopia para mais perto da realidade, inclusive ações que eu mesma posso realizar, e, assim, agirei guiada por ela, o que me fará encontrar alguma felicidade no ano que se anuncia ruim.

E é isto o que desejo para todos: não desistam da utopia, guiem-se por ela e gozem os relâmpagos da felicidade possível na dura travessia do ano de 2015.

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