Dornélio: pesquisa impugnada apontou números ainda mais próximos aos das urnas |
Com a credencial de ter previsto corretamente o resultado em segundo turno, apontando que Jatene venceria por por cerca de quatro pontos percentuais, a Doxa Pesquisa e Comunicação tem recebido, ainda agora, muitas perguntas sobre as últimas eleições no Pará. O diretor da empresa, o santareno Dornélio Silva, resolveu compilar as principais e respondê-las.
Os questionamentos a que Dornélio responde revelam que seu instituto esteve muito mais perto do resultado das urnas do que do que as aferições a que chegou a uma semana do pleito de 26 de outubro. Não pôde, entretanto, mostrar os números porque a coligação encabeçada pelo candidato do PMDB impugnou a pesquisa.
No dia 18 de outubro, a uma semana do pleito, a Doxa apontava que Jatene sairia vencedor por 53,7% a 46,3%. O levantamento finalizado na sexta, 24 de outubro, mas que não pôde ser publicado, apontou 51,3% para Simão Jatene e 48,7% Helder, considerando-se os votos. Pois as urnas apontaram 51,92% a 48,08%, perfeitamente dentro da margem da aferição.
Leiam abaixo os questionamentos que Dornélio recebeu e respondeu.
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Como avalia
a campanha 2014
Foi uma das campanhas mais
acirradas e disputadas dos últimos pleitos da história do Pará. E é a primeira
em que um político consegue um terceiro mandato no Pará. Também foi a primeira
vez que Simão Jatene participa de uma campanha como candidato a reeleição. A
primeira, quando ganhou, foi indicado e apoiado por Almir Gabriel (governador a
época), depois de quatro anos quando defenderia seu mandato numa reeleição, não
foi candidato, deu lugar a Almir Gabriel que foi derrotado por Ana Júlia; em
2010, Ana Júlia não consegue se reeleger e é derrotada por Jatene. Agora, sim, 2014
Jatene é candidato à reeleição. Ressalte-se que foi uma campanha atípica dentro
de um Pará dividido (a primeira após o plebiscito que pretendeu dividir o Pará
em três unidades federativas); além disso foi o confronto de dois grupos (econômico
e de comunicação) que se debateram nesse processo. Os interesses eram
grandiosos. Daí o acirramento intenso e o nível muito rasteiro da campanha.
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O PSDB até
poucos meses das convenções estava,
praticamente, sem candidato. Muito em função da indefinição do governador Simão
Jatene em não sair. Isso pode ter beneficiado o avanço do candidato Helder
Barbalho?
Com certeza, só para exemplificar, em outubro
de 2013 a Doxa fez uma pesquisa estadual em que Jatene estava 10 pontos a
frente de Helder. De outubro até a decisão final de que Jatene, de fato, seria
candidato à reeleição, aconteceu um vácuo de indecisão política no PSDB.
“Jatene iria renunciar ao mandato pra disputar fora do cargo por que não
concordava com o instituto da reeleição”; “Jatene não seria mais candidato”.
Essa indefinição causou problemas internos ao PSDB e aliados, bem como entre apoiadores históricos ao PSDB. Nesse quadro nervoso,
Helder Barbalho e seus aliados ocupam esse vácuo deixado pela indefinição
tucana. E seu potencial de intenção de voto cresce. Helder e seus aliados
começam a jogar sozinhos, sem concorrentes a altura. Quando as arestas internas
do PSDB foram aparadas e Jatene define-se como candidato - o único que poderia
enfrentar o avanço de Helder -, os aliados históricos, apoiadores de campanha Jatene
animam-se, levantam-se e se preparam para luta eleitoral. O IBOPE apresenta sua
primeira pesquisa estadual, indicando empate técnico entre os dois principais
concorrentes (ligeira vantagem para Helder). Olhando o que a Doxa detectou em outubro/2013
significa dizer que Jatene estava recuperando o espaço perdido devido à sua
indefinição, àquela altura, em ser ou não ser candidato. Já nas primeiras
pesquisas do inicio da campanha na Região Metropolitana de Belém feitas pela
Doxa já podíamos identificar essa recuperação de espaço. E já era possível
perceber que o pleito seria, como foi, acirrado.
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Depois de 20 anos fora
do poder, pela primeira vez o PMDB lança
um candidato competitivo, antes eram apenas coadjuvantes. Como você analisa
essa trajetória do partido ou melhor a volta da oligarquia Barbalho do poder
estadual?
Ao longo de 16 aos, o PMDB
transformou-se num partido estritamente parlamentar, isto é, fazer o maior
número de deputados estaduais e federais para, depois, com quem tivesse no governo,
ter o poder de barganha e negociar o poder: fazer parte do poder através de
negociações de cargos no executivo. Aqui no Pará, após a derrota de Jader para
Almir Gabriel em 1998 (primeira reeleição no Pará), o PMDB não lançou mais nenhum
candidato competitivo, apenas
coadjuvantes, para cumprir tabela e ter espaço para os candidatos ao
legislativo. Em 2002 disputam Jatene, Maria do Carmo e o PMDB lança Rubens
Nazareth; em 2006 disputam Almir e Ana, e o PMDB lança José Priante; em 2010,
reeleição de Ana Júlia, PMDB lança Domingos Juvenil. Na ALEPA, o PMDB era
decisivo para a aprovação de projetos do executivo. Tinha que haver negociação,
e essa negociação passava necessariamente pelo PMDB. É a questão da
governabilidade. Nos governos de Ana Júlia e Jatene o PMDB obteve seus 30% de
participação. Depois foram rompidos os
acordos e o PMDB volta a oposição ferrenha.
Dois anos antes da eleição para o
executivo estadual, o PMDB lança um experimento: Helder Barbalho que, após sua
saída da Prefeitura de Ananindeua, ficou fazendo exclusivamente política no
Estado. No segundo semestre de 2013 avaliou-se que esse experimento poderia dar
certo. A candidatura Helder tornou-se fato, ganhou envergadura competitiva.
Agora não era mais nenhum coadjuvante do PMDB disputando uma eleição, era o
filho de Jader Barbalho que não fez sombra para nenhuma das possíveis
lideranças que se apresentaram durante esses anos todos. Portanto, se
apresentava aos paraenses uma eleição disputadíssima, tanto que não tivemos
nenhuma terceira candidatura competitiva que pudesse ser a alternativa àqueles
eleitores que não queriam Helder Barbalho e nem Simão Jatene.
Apesar de ser um jovem de 35
anos, já com um bom currículo político, Helder carrega a marca Barbalho (para
uns amado, para outros odiado). Em uma ampla pesquisa realizada em
outubro/2013, uma das variáveis era a seguinte: “o fato de Helder ser filho de
Jader Barbalho, isso aumenta, diminuiu ou não interfere na sua vontade de votar
em Helder?” – 30% afirmaram que diminuía a vontade de votar. Essa era a
rejeição de Helder enraizada no seio do eleitorado pelo fato de ser filho de
Jader.
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Aliança
PMDB/PT, como você avalia essa composição?
Uma aliança um tanto quanto esdrúxula, isto é,
incomum para o PT que já foi governo no Pará e que tinha uma presidente da
República disputando uma reeleição. O PT como um partido de movimentos sociais
e sindicais, com grandes lideranças políticas, aqui no Pará se acachapou muito às
ordens palacianas. Poderia seguir o curso normal das regras do nosso sistema
eleitoral, lançando candidato no primeiro turno, pensando na negociação do
segundo. Se o PT, mesmo com o desgaste de Ana Júlia, tivesse lançado candidato
próprio teria, em tese, seus 20% de voto no estado. E, possivelmente, poderia
ser muito mais favorável a Helder do que os dois saírem abraçados desde o
primeiro turno. Além de se coligar com os Barbalhos, adversários históricos, o
PT teve que engolir o DEM (Democratas) na aliança, descaracterizando por
completo os ideais petistas. No entanto, o PT ganhou o senador, Paulo Rocha,
que fazia parte do acordo eleger um senador, Helder e Dilma. Cumprido uma parte
do acordo, no segundo turno houve uma retração petista, principalmente no oeste
do Pará, onde houve campanha pelo voto nulo para governador. Essa aliança
causou estragos no parlamento ao PT que diminuiu consideravelmente sua bancada
em nível estadual e federal, bem como o quantitativo de votos em relação aos
outros pleitos. Dos 8 deputados que o PT tinha na ALEPA, elegeu apenas 3; por outro
lado, o PMDB que tinha 8 deputados, manteve o mesmo quantitativo. Na Câmara
Federal, o PT que tinha 4 deputados caiu pra dois; o PMDB, tinha 4, perdeu o
Wladimir para o SD e elegeu agora três. Para ler o restante da matéria, leia aqui.
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