terça-feira, 25 de novembro de 2014

"A Caça", a ficção, a arte e a vida



Vejam só como a vida imita a arte - às vezes literalmente, outras vezes quase.
Este caso do ex-monitor Antônio Bosco de Assis, preso desde 8 de maio, acusado de tocar nas partes íntimas de três crianças que estudam na escola onde ele trabalhava, em Barueri, na Grande São Paulo, fez o poster lembrar-se de um filme excelente a que assistiu no ano passado, em São Paulo mesmo, e que infelizmente não foi exibido em Belém. Mas o DVD está disponível em qualquer locadora. Se você na viu, veja logo, porque é indispensável, sobretudo para nós, jornalistas, que sempre estamos com nossas sentenças prontas para proferi-las em qualquer situação que se apresente.
Trata-se do filme "A Caça" (veja o trailer acima) do diretor Thomas Vinterberg, que antes já se notabilizara mundialmente com o aclamado Festa de Família.
A trama gira em torno da pequena Klara (Annika Wedderkopp), uma criança - doce, angelical, terna e encantadora como quase todas as crianças -, que acusa Lucas (Mads Mikkelsen, em magistral interpretação), seu professor, de lhe mostrar as partes íntimas.
Com apenas cinco anos de idade, ela foi movida pelo velho, insuperável e atemporal sentimento da vingança, reagindo a uma paixão não correspondida pelo professor.
A escola e a comunidade onde funcionava, uma pequena cidade do interior da Dinamarca, passam a ver no professor, adorado por todas as outras crianças e por seus pais, o monstro que precisa ser segregado, senão excluído do meio social, antes mesmo que venha a se apurar a sua culpabilidade - ou não.
O espectador sabe conclusivamente, já na metade do filme, até que ponto as fantasias da garota se cruzam com intenção, digamos assim, adulta de enredar o professor num crime. Da mesma forma, o espectador dispõe de todos os elementos concretos para fazer um juízo sobre se o acusado tem ou não alguma responsabilidade no crime de que é acusado.
Mas o que prende a atenção é perceber como se constroem e destroem as relações, os conceitos e preconceitos em decorrência de formulações psicológicas consistentes na aparência, mas no fundo enganosas, por isso perigosíssimas.
Essa, pois, é a ficção.
E a realidade?
Laudos periciais realizados há sete meses e somente na semana passada juntados ao processo judicial afirmam que não há nenhum elemento que comprove a ocorrência de abuso sexual nas três crianças que, segundo a polícia, foram molestadas por um ex-monitor de escola.
Os exames foram feitos em 1º de maio, cerca de dez dias após o suposto crime, e concluídos naquele mês. Também foi anexado ao processo o laudo do exame feito pelo Instituto de Criminalística no computador apreendido na casa de Antônio. Os peritos não encontraram nenhum material referente a pedofilia.
Os laudos do IML só foram anexados ao processo na última terça (18), data em que uma reportagem do jornal Folha de S.Paulo revelou que Antônio estava preso com base apenas nos relatos das crianças.
Na tarde desta segunda-feira (24), um grupo de 15 pais de alunos fez um ato em defesa de Antônio em frente ao colégio. Levantaram cartazes e faixas que diziam: "Façam justiça com imparcialidade" e "Cadê as filmagens?" – em referência à ausência das imagens das câmeras da escola na investigação.
O caso tem alcançado enorme repercussão sobretudo depois da reportagem - ponderada, informativa e, mais do que isso, formativa - que o "Fantástico" do último domingo exibiu.
A sentença, prevista para a semana passada, terá de esperar até que as partes se manifestem sobre os laudos.
Caberá à Justiça separar a ficção da realidade.

6 comentários:

  1. A diferença é que é mais de uma criança, elas insistem em denuncar o professor, as imagens das câmeras do Mackenzie sumiram, as que degendem o professor são as mães das outras crianças etc. Agora a pergunta que não quer calar: o que faz um homem sozinho com crianças de 3 anos de idade em uma escola? As professoras (sim, nesta idade nas escolas particulares são duas professoras) não acompanham? Acho que há problemas não só no inquérito, mas na própria escola.

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  2. Lembro agora da Escola Base, em Sampa, quando as crianças acusavam os donos da escola e que eles (os proprietários da escola) eram inocentes. Mas até a imprensa ajudou a condená-los a uma fogueira da desgraça.

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  3. Cara, após rolar a barra após a postagem da ação da bandidagem na Cabanagem, pensei que era uma montagem da CAÇA com aquele delegado que se elegeu deputado federal. Isso que é imaginação refém da violência.

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  4. As crianças não devem, isoladamente, serem definidoras do rumo da vida de uma pessoa. As perícias devem ser realizadas para inocentá-lo ou acusá-lo, mas serem apuradas.

    Pense você, você aí que lê esta mensagem, já pensou se um coleguinha de seu filho, que vai até sua casa, o acusa de abuso??? Você vai se defender como de uma ação social imparcial?

    Enfim, sem defender ou acusar pois não tenho acesso ao processo, acho que as provas devem ser levadas em consideração e analisadas nitidamente à luz da Lei.

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  5. Para o leitor que disse que a diferença é que são 3 crianças, vai a ressalva: elas não contaram a história ao mesmo tempo por livre e espontânea vontade. Uma única menina disse algo à babá e mencionou que, com ela, estavam três amigos: duas meninas e um menino. Esse menino nem sequer tinha ido à escola no dia do suposto abuso --e foi excluído da investigação. As outras duas meninas CONFIRMARAM a história APÓS serem INDAGADAS PELOS PAIS --ou seja, existiu o risco de terem sido influenciadas. Tudo isso, para efeitos legais, foi feito sem a presença de psicólogos ou profissionais aptos a extrair o depoimento das meninas.

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  6. Anônimo9/1/15 11:12

    Investigação cheia de ''furos'', imagens das câmeras não foram divulgadas, outros colegas afirmam que o monitor nem esteve no prédio onde ocorreu (se é q ocorreu)o abuso. Como já foi dito, uma das crianças citada por outra nem foi a escola naquele dia, tempos depois a primeira menina que falou disse que nada tinha acontecido, não houve acompanhamento de profissional preparado no depoimento das crianças, com tudo isso, era para o monitor pelo menos aguardar em liberdade. Quais seriam os reais interesses na condenação deste monitor?

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