segunda-feira, 8 de setembro de 2014
Um menu de desconfianças
Na política, a cada momento, entre outros feitos, faz-se um discurso pelo viés da diversidade do cenário. Há um cardápio de complicados ingredientes e com sabor amargo que tem feito da política um menu de desconfianças. O que menos interessa é a prática gastronômica e mais as das relações complexas da política e o que os políticos vêm protagonizando ultimamente. Muitos parecem hereges com aparência aristocrática, mas de uma elegância em farrapos. Agora, apresenta-se mais um complicador: decifrar a candidata oficial do PSB à Presidência da República desde meados do mês passado. Pesquisas de opinião indicam que a ex-senadora tem musculatura para superar o desempenho obtido na última campanha e até chegar a um segundo turno com reais possibilidades de vitória. Tais chances ficarão mais transparentes quanto maior for o conhecimento do eleitor sobre suas ideias e convicções.
Está claro, apesar das esperanças de alguns especialistas, que Marina, por ora, ameaça em primeiro plano a candidatura de Aécio Neves. Há quem afirme que Marina, ao adentrar para valer na arena eleitoral, prejudica a candidatura à reeleição da presidente Dilma Rousseff. Vem à tona e muitos veem na recém-chegada lembrança da expressiva votação obtida por ela em 2010 um obstáculo maior à permanência no poder do desesperado PT do que aquele representado por Aécio.
Mesmo com aparência frágil, esconde uma personalidade forte, geralmente inflexível e com escassa capacidade de articulação política. Isso transforma Marina num enorme ponto de interrogação. Mas ninguém duvida: Marina no lugar de Eduardo Campos cria um quadro novo, mas ainda é cedo para uma definição categórica. A candidata do PSB cresce nas pesquisas, em meio à comoção nacional pela morte de Campos, mas ainda precisa deixar claro quais são suas ideias e seus projetos para o País.
Algo está muito nítido: Marina no lugar de Campos cria um novo cenário. Os primeiros sinais de novidade indicam que quem haveria de se precaver contra surpresas desagradáveis é o candidato do PSDB. Diga-se que Marina já anunciou a decisão de não participar das campanhas de Geraldo Alckmin, Beto Richa e Paulo Bauer, como se as relações com o PSDB tivessem azedado de vez. Outra que não é nova, para Marina: o agronegócio, que representa 23% do Produto Interno Bruto (PIB), é o maior vilão do meio ambiente. Essa é o tipo da questão que precisa de esclarecimento. Pergunta-se: como alguém que almeja assumir a Presidência da República pode desconsiderar um setor que responde por 23% do PIB? A candidata não explica como fará isso, o que só apavora os empresários do setor.
Essas e outras questões permanecem mergulhadas em águas turvas por Marina. Dia desses, indagada sobre a matriz energética brasileira, entoou um discurso que parecia um eco da campanha anterior. Como resolverá o problema, não deixou claro. Fala em compensar a produção com investimentos em fontes já existentes. Defende a ampliação do parque eólico e de energia solar, além da substituição de grandes hidrelétricas por pequenas centrais. Especialistas no setor acham as medidas insuficientes. A postura de Marina traz incerteza para o futuro de projetos cruciais para a ampliação da oferta de energia, como a construção da usina de Belo Monte.
Sempre que ocupou cargos administrativos, Marina cultivou um modo peculiar de tomar decisões, que escapa aos moldes usuais. Segundo assessores próximos, ela gosta de reunir todos ao redor de uma mesa para colher suas opiniões. A decisão, no entanto, ela toma sozinha, fechada em copas. A palavra final nem sempre é consenso entre seus pares. Antes da derradeira tomada de posição, normalmente provoca suspense, deixando tontos e tensos até seus aliados. O modus operandi de Marina gera problemas na articulação política. Quando senadora, tinha dificuldades para negociar; sem diálogo, sem capacidade de convencimento, demonstrou um desempenho parlamentar pífio.
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Sergio Barra é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
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