Por Norma Couri, no Observatório da Imprensa
O Mercado de Notícias, a peça, tem 389 anos, escrita por um contemporâneo de Shakespeare, Ben Johnson, três anos depois do nascimento do primeiro jornal em Londres.
O Mercado de Notícias, o filme, acaba de estrear com trechos da peça montada pelo diretor gaúcho Jorge Furtado e depoimentos de 13 jornalistas. Peça e depoimentos entrecortados, parece que Ben Johnson é contemporâneo, vive aqui ao lado.
A profissão mais antiga do mundo, tirando aquela, é representada e relatada no documentário com as mesmas qualidades e defeitos de quase quatro séculos atrás. A manipulação da informação, a relação promíscua do jornalista com a fonte, as fofocas, o jornalismo de celebridades, o jornalista interferindo, às vezes alterando, às vezes intermediando o encontro do leitor e o fato.
É o primeiro documentário do cineasta que não terminou nenhuma das faculdades que cursou, incluindo as de Jornalismo e de Medicina, que entre direção e roteiro acumula cerca de 50 títulos na filmografia de curtas, longas e séries de TV, além de nove livros. Ilha das Flores, de 1989, uma obra-prima sobre um lixão frequentado por porcos e humanos, ganhou o Urso de Prata no festival de Berlim, e os outros filmes, duas dúzias de prêmios.
Mas por que logo agora que a profissão como a conhecemos quase despenca, e muda os contornos para alguma coisa desconhecida, Jorge Furtado resolveu tratar dela?
O documentário ouviu Janio de Freitas, Mino Carta, José Roberto Toledo, Fernando Rodrigues, Bob Fernandes, Cristiana Lobo, Geneton Moraes Neto, Leandro Fortes, Luis Nassif, Maurício Dias, Paulo Moreira Leite, Raimundo Pereira e Renata Lo Prete.
E cita, por exemplo, Millôr Fernandes: “Jornalismo é oposição, o resto é armazém de secos e molhados”; Jorge Luis Borges: “Jornalismo é um museu de miudezas efêmeras”; o historiador britânico Arnold Toynbee, sobre a cobertura política: “Quem não gosta de política está condenado a ser governado por quem gosta”; o editor-chefe da revista People Richard Stolley, sobre matérias que atraem o público: “Jovem é melhor do que velho, rico é melhor do que pobre, bonito é melhor do que feio, música é melhor do que cinema, qualquer coisa é melhor do que política e nada é melhor do que uma celebridade morta”.
Furtado mantém atualizado o site www.omercadodenoticias.com.br, onde estão as entrevistas, a peça completa em inglês e português e a pesquisa de oito anos ao custo de R$ 660 mil bancados pelo Ministério da Cultura e a Casa de Cinema de Porto Alegre. Mas não perca o filme.
Clique aqui para ler a íntegra da entrevista.
Não há nenhum relato da ida dos que não foram, nem do jornalista que acreditou, foi e não voltou do além. Seria o maior furo.
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