quarta-feira, 6 de agosto de 2014

A vocação imperial



Para se tornar o país mais poderoso e mais rico do planeta e difundir o estilo de vida dos seus habitantes por todos os continentes, foi preciso que os Estados Unidos fizessem, em ritmo acelerado, a passagem de uma sociedade colonial para um Estado soberano, pré-industrial e aparentemente rural até aproximadamente meados do século XIX. E também que enfrentassem, na década de 1860, os horrores de uma guerra civil, responsável pela consolidação definitiva da ordem burguesa e pela intensificação vertiginosa do seu desenvolvimento econômico.
Em 1823, quando os EUA davam os primeiros passos para sua expansão continental, o presidente James Monroe fez uma declaração no Congresso que se tornaria conhecida como Doutrina Monroe. Nela era definida a posição do país diante das nações latino-americanas recém-independentes e das antigas potências coloniais. Mas foi Theodore Roosevelt quem inaugurou, no início do século XX, as bases da doutrina imperialista dos EUA. Com seu Big Stick – o “Grande Porrete” –, ele reafirmava que a América era para os americanos.
Roosevelt tinha alta popularidade. “Nós queremos Teddy!”, era o grito de guerra do Congresso do Partido Republicano de 1900. Diante disso, Mark Hanna, presidente da agremiação, não tinha outra escolha senão a de dobrar-se à vontade geral dos congressistas: Roosevelt concorreria à Vice-presidência dos EUA, na chapa do candidato à reeleição William McKinley. Se existia essa unanimidade em torno do governador do Estado de Nova York era porque os republicanos julgavam oportuno aproveitar a enorme popularidade adquirida por ele, dois anos antes, na guerra contra a Espanha em Cuba. Com a vitória americana, a ex-colônia espanhola foi mantida independente, porém submetida à emenda Platt, que admitia a intervenção dos EUA em Cuba a qualquer momento.
Como vice-presidente, obrigado ao silêncio respeitoso de sua função, ele estaria impossibilitado de causar danos ao capitalismo, que então seria livre para se desenvolver tranquilamente. Roosevelt se irritava com esse jogo político, pois considerava que não existia pior cargo do que o de vice-presidente. Em setembro de 1901, poucos meses após o discurso de posse de McKinley, em março, o presidente era assassinado a tiros pelo anarquista Leon Czolgosz. Aos 42 anos, Roosevelt tornava-se o mais jovem presidente da história dos EUA.
Quanto à ideologia política, já vinha sendo forjada havia um bom tempo. Era estudante da Universidade de Harvard quando escreveu “A Guerra de 1812”, baseado no famoso conflito anglo-americano, por muito tempo estudado nas escolas militares dos EUA. Na obra, ele insiste na necessidade de nunca se engajar em um conflito sem que se tenha a certeza absoluta da vitória e na importância de desenvolver a Marinha para o policiamento do litoral, o que criaria as condições para a formação de uma potência indestrutível. Todas essas ideias estão presentes na sua doutrina do “Grande Porrete”, instituindo os EUA como guardiões do mundo dentro de sua esfera de influência. Ideias que sobrevivem na estratégia global americana.
Em Washington, ele seria o homem de todas as estreias: foi um dos primeiros presidentes a explorar a importância da imprensa. Prova disso foi a instalação de uma sala para jornalistas na Casa Branca. Foi o primeiro presidente a viajar para o estrangeiro, ao visitar o local onde seria construído o Canal do Panamá. Foi também o primeiro presidente a viajar de avião, em 1910. Seus filhos brincavam na Casa Branca com seus Teddy bears, ursos de pelúcia assim batizados em homenagem ao presidente, que durante uma viagem à região do Mississipi, em 1902, recusou convite para participar de uma caçada a ursos. Seduzido pelo convite do governo brasileiro, Roosevelt lançou-se em uma trágica aventura pela selva amazônica, acompanhado de Cândido Rondon, e contraiu malária. Debilitado fisicamente, o coração cedeu. Morreu seis anos depois, aos 61 anos.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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