O Ministério Público Federal (MPF) denunciou à
Justiça dois comerciantes por terem submetido trabalhadores bolivianos a
condições semelhantes às de escravos em um restaurante de Altamira, no sudeste
do Pará. A denúncia, encaminhada à Justiça Federal nesta terça-feira, 22 de
julho, também registra que direitos trabalhistas de funcionários brasileiros
foram violados.
Caso condenados, os acusados podem pegar até
oito anos de reclusão e multa pelo crime de submissão a trabalho escravo e
detenção de até dois anos, além de multa, pela frustração de direitos
trabalhistas. As punições podem ser somadas de acordo com o número de vezes em
que os crimes foram cometidos. As vítimas do trabalho escravo são dois
bolivianos, e as vítimas da violação de direitos trabalhistas são duas
brasileiras.
Assinada pela procuradora da República Thaís
Santi Cardoso da Silva, a denúncia relata que Fernando Darnich Yale Alvis e
Leila Moura De Yale, responsáveis pelo restaurante Panela de Barro, aliciaram
as duas vítimas do trabalho escravo em Puerto Villa Ruel ,
na Bolívia. Em fevereiro de 2013, as vítimas foram trazidas ao Brasil
pessoalmente pelos denunciados, que prometeram bons salários, moradia,
alimentação e bens de consumo, sem custos para os trabalhadores.
Ao chegarem ao local de trabalho, as condições
encontradas foram totalmente diferente das prometidas. As vítimas eram
submetidas a jornadas de trabalho superiores a 18 horas diárias, sem período de
descanso ou dias de folga. Uma delas residia no próprio local de trabalho, no
depósito do restaurante, junto com sucatas, restos de alimentos, botijões de
gás, ratos e baratas.
As promessas de moradia, alimentação e bens
gratuitos foram desmentidas, e as vítimas acabaram ficando em dívida com os
denunciados, o que impedia os bolivianos de deixar o restaurante. “A repulsa
que causa esse delito reside na coisificação do ser humano, que no presente
caso se soma à vulnerabilidade das vítimas, retiradas de seu país para servirem
no limite da exaustão aos agentes denunciados, sem possibilidade de retornar
aos locais de origem”, criticou a procuradora da República na ação judicial.
As vítimas brasileiras não tiveram a carteira de
trabalho registrada. Os acusados enganavam as funcionárias dizendo que estavam
impossibilitados de fazer as anotações nas carteiras porque havia muita
burocracia para a realização dos registros.
Campanha MPF no combate ao trabalho escravo -
Nos últimos anos, o MPF tem intensificado os esforços para garantir maior
eficiência na punição do trabalho escravo. Desde 2010, os procedimentos
extrajudiciais instaurados aumentaram mais de 800%. Já as ações penais autuadas
quase dobraram. Isso traduz o empenho em combater os crimes relativos à escravidão
contemporânea e assim garantir a efetivação de um dos princípios norteadores da
República Federativa, que é a dignidade da pessoa humana.
Para conscientizar a sociedade sobre a
ocorrência da escravidão contemporânea e mostrar como o trabalho escravo se configura
na atualidade, a 2ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF, em parceria com a
Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, lançou este ano a campanha
publicitária institucional "MPF no combate ao trabalho escravo".
A iniciativa pretende, também, esclarecer que o
MPF atua no combate a este crime e que o cidadão pode procurar a instituição
caso tenha conhecimento de alguma irregularidade.
Saiba mais: http://www.trabalhoescravo.mpf.mp.br/
Fonte: Ministério Público Federal no Pará
O trabalho do MPF com o trabalho escravo é excelente, na medida em que lança fogo em cima desta atitude desumana e muito comum em nosso Estado.
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