Por Marcos dos Santos Farias, no Observatório da Imprensa
No sábado (21/06), foi realizada em São Paulo a convenção do Partido dos Trabalhadores (PT), na qual foi lançada a candidatura à reeleição da presidente Dilma Rousseff. Além dos discursos já esperados contra a oposição, a favor dos programas sociais e da presença ostensiva do ex-presidente Lula, o partido decidiu agradar seu núcleo mais à esquerda, trazendo um velho discurso da regulação da mídia e criando um ambiente conspiratório da imprensa contra o partido.
Já não é de hoje que o PT defende a regulação da mídia. Desde os primórdios do partido, quando o mesmo se assemelhava mais ao Partido Comunista do que à Social Democracia, essa era uma das pautas constantes. Porém, o que foi observado desde a campanha de Lula em 2002, foi uma mudança na divulgação de suas ideias, quando o ex-presidente assumiu uma posição mais ao centro, conseguindo, assim, acalmar aqueles que outrora tinham receio de ter um partido tão radical no poder.
Enquanto Lula estava no poder, o governo, vez ou outra, trazia a ideia da regulação à tona, porém essa sempre era sufocada desde o início, seja por pressão da mídia ou mesmo do partido, que, apesar de não abrir mão de suas convicções, tinha certo conforto no poder, podendo assim deixar de lado a agenda ideológica, para se focar na autoperpetuação.
Entretanto, após a entrada de Dilma no poder, o partido viu-se fragilizado pelos erros cometidos e a perda da popularidade, escândalos de corrupção e agora, com a chegada das eleições e as pesquisas cada vez mais desanimadoras, o PT resgatou suas origens, para tentar manter-se unido e resgatar o público mais ideológico, partindo para o ataque contra todos os que não compactuam de suas expectativas, incluindo neste cenário a oposição, a imprensa e todo aquele que fizer crítica ao governo.
Liberdade fundamental
O eco, antes transmitido apenas por determinados setores do partido, agora parte da própria direção do PT, a exemplo do pronunciamento (ver aqui) do presidente do partido, Rui Falcão, neste evento de lançamento de Dilma à reeleição, classificando a imprensa de truculenta e de direita, ou ainda, num caso mais categórico, quando o vice-presidente do partido Alberto Cantalice, em artigo publicado no site do PT (ver aqui), aponta os nomes dos jornalistas que devem ser considerados inimigos, por serem os divulgadores de mentiras e ajudarem a perpetuar o ódio contra o partido e a pátria.
O que podemos observar é que o PT não inova ao atacar a imprensa, porém agora já não faz esforço para esconder esse posicionamento. Pelo contrário, os próprios dirigentes do partido partiram para o ataque direto, deixando assim um alerta, pois um dos primeiros passos para a implantação de um regime autoritário é o ataque à imprensa livre.
O fator surpreendente desse fato é que, até o momento, nenhuma entidade da imprensa brasileira tenha se manifestado contra as declarações do partido. Apenas a organização Repórteres Sem Fronteiras emitiu nota em repúdio às declarações do partido, defendendo acima de tudo a liberdade de imprensa.
Não se pode afirmar se o discurso será posto em prática, mas a imprensa deve manter-se em alerta, pois ao observarmos a história vemos que existem várias formas de cercear essa fundamental liberdade – desde a falta de papel para imprimir o jornal, como na Venezuela moderna, até o envio para o Gulag, para trabalhos forçados, daqueles que Stalin ou o partido consideravam traidores da pátria.
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Marcos dos Santos Farias é analista de Logística, Campinas, SP
Agora Inês é morta. Os tempos são outros. os fronts são outros. O PT já não tem mais força para controlar as redes sociais.
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