terça-feira, 6 de maio de 2014

Há outras pedras no percurso



Em se tratando de educação, os vícios continuam a evidenciar o contraditório maior que as virtudes. Chega a tal ponto que, de tanto lutar, os esforços vão se esvaindo e não parece decente, nem confortável para qualquer criatura continuar na luta desigual. Não se trata de filosofar é questão de princípio. O mundo com as misérias do desemprego, do analfabetismo, da exclusão social e educacional, da fragmentação familiar que abrem as portas para as drogas, para a prostituição, para aquele velho esquema de levar vantagem numa cultura de manipulação de desejos, da criação de novas necessidades materiais e espirituais que são provocadas pelo consumismo que, agora, não tem cor do dinheiro ou de classe social, massificada por um capitalismo de autoajuda.
As causas que afligem a educação são multifatoriais. O vazio de sentidos que dimensionaria projetos de vida de filhos e de pais aflige tanto o pobre quanto o rico, tanto o excluído quanto o do canudo já conquistado, já que a vulgaridade e a mediocridade não reconhecem cabeças ignorantes ou bolsos muito bem cerzidos pelas poupanças bancárias. Agregada à família, cuja responsabilidade deveria ser compartilhada, estaria a escola que tenta acompanhar a velocidade das mudanças que ocorrem no cotidiano de ambas as instituições. Uma mudança de valores universais (liberdade, fraternidade) que foram substituídos pelos valores de mercado (competição, individualismo), ao se ignorar a formação de cidadania dos jovens.
As queixas são muitas e nenhum olhar atento aos detalhes parece balançar para acordar, deve-se lançar um novo olhar para a gestão pública. Há, na verdade, um grande desânimo e uma vontade política de nada fazer. Mas com tanto escândalo pipocando, o país tem a sensação de que, no universo da política, só há corruptos e notícias ruins. Não é bem assim, mas as exceções são muito poucas. É fundamental e necessário as boas práticas de gestão pública. Independentemente de partido político ou coloração ideológica, alguns – é verdade que ainda raros – governantes têm melhorado serviços públicos, graças à adoção de métodos de administração com raízes na iniciativa privada.
Nossa Educação tão sofrida apresenta o atual currículo escolar arcaico e inútil. Estão preparando o alunado para o vestibular, não para a vida. Além disso, a concorrência e a pressão exercidas são arrebatadoras e desestimulantes. Antes mesmo de escolher um curso para seguir na faculdade, esses alunos são bombardeados com estatísticas como “nota de corte” e “pessoas por vaga”. É como pendurar uma placa escrita “fracasso” no pescoço desses pobres moços antes mesmo deles tentarem. Deve-se ter em conta que o mundo estudantil metamorfoseou-se muito de dez anos para cá, contudo, nem todos conseguem acompanhar. Necessita-se urgentemente de um modelo mais incentivador, que abra as portas para o conhecimento e não apenas para carimbar com o selo de “aprovado”.
Dia desses, ensaiando meu solilóquio, pensava propor na longa lista de espécies em extinção os professores. Paralelamente ao declínio do número de estudantes e ao aumento exponencial de alunos, tese com a qual concordo até certo ponto, assistimos à queda vertiginosa da figura do professor, substituída pelos chamados “profissionais de ensino”. Não afirmo que a docência seja um sacerdócio, pois é inegável que muitos fatores concorrem para que isso ocorra. Há, porém, uma diferença substancial entre esses dois espécimes que passa inevitavelmente pela formação inicial e as subsequentes, cada vez mais pauperizadas por um processo que transforma a educação em mercadoria barata.
Mas, ao contrário do que se possa imaginar, o trabalho e a oração são meios de compartilhar ações do cotidiano. Nessa incursão pelo universo da Educação, é necessário um novo olhar para aquilo que mais interessa ao cidadão: que os serviços públicos sejam eficientes, baratos (sem superfaturamento) e funcionem.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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