quarta-feira, 12 de março de 2014

A cara do Brasil


Olhem essa foto.
Mirem nela.
Não se esqueçam dela.
Fixem bem a imagem.
Reparem nessas caras.
Essas caras, acreditem, são a cara do Brasil.
Emblematicamente, são a cara de um Congresso que, com todo o respeito, às vezes - ou muitas vezes - se torna refém, juntamente com o país, de algumas dezenas de excelências que defendem os seus interesses, e dos grupos a que pertencem, com um ardor comovente, com uma paixão enternecedora, com uma convicção inebriante.
Essas caras - a cara do Brasil - misturam um Bolsonaro, homofóbico de carteirinha, com outros pares com que tresandam (hehehe), que exsudam (ui!), que exalam emoção. Emoção das mais puras.
Deputados federais, eles foram captados pela lente de Gustavo Lima, da Agência Câmara, no flagrante da aprovação ontem à noite, no plenário da Câmara, de uma comissão externa que viajará à Holanda para investigar denúncias de propinas na Petrobras.
Queremos que essa parada seja investigada?
Queremos.
Queremos que brotem das latrinas da corrupção todas as suas porções - e poções - de podridão?
Queremos.
Queremos que os ditos princípios republicanos - sejam lá quais forem - que pregam a transparência borbulhem à luz do Sol?
Claro. Queremos.
O que ninguém aceita, meus caros, são essas composições de conveniência, são essas somas de ocasião, que iludem o país.
Quem não conhece esses distintos senhores até imagina que eles sejam os bastiões da moralidade. Até imagina que eles são um monumento de carne e osso aos mais nobres, elevados e dignos impulsos da maior transparência que o espírito público é capaz de produzir.
Mas não.
Sabemos que não é isso, todavia.
O que temos aí, nessas caras que são a cara do país, é uma composição circunstancial, que reúne insatisfeitos do PMDB, insatisfeitos de outros partidos da base governista e uns caraminguás oposicionistas.
Eles, ontem, estavam como vocês veem na foto: com um semblante parecido com o de torcedores gritando um gol - um golaço - num Re-Pa.
Hoje, no momento em que você estiver lendo essa postagem, eles já poderão estar na iminência, quem sabe, de desvotar (para usar a celebrada e celebrizada expressão do vereador belenense-jurunense Gonçalo Duarte) tudinho o que haviam votado, porque a nova ocasião, a nova circunstância, a nova conveniência lhes recomenda.
Não se iludam.
Porque essas caras são a cara do Brasil.
A cara sem óleo de peroba, vale dizer.
Essa é uma cara assustadora.
Ela nos assusta.
Pelo menos assusta o pessoal aqui da redação do blog.
E você, não se sente assustado, não?
Céus!

5 comentários:

  1. Que bom que o Joaquim Barbosa do STF nos elucidou acerca do que seja circunstancial, notando-se isso na expressão usada pelo poster quando disse da "composição circunstancial". Lá, no STF, foi usada para acobertar quadrilheiros; aqui, na reportagem, para mostrar que o PMDB não se dobra ao PT e que ao menos em tese querem descobrir quadrilheiros na Petrobras. "Que coisa"!

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  2. Esses caras são eleitos por nós e isso sim me dá medo. Se já não temos tantos analfabetos quanto eles gostariam, como é que ainda, nós, os letrados, votamos em pessoas que o passado condena, ou que são apoiados por gente não tão bem recomendada?

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  3. Essa é a cara da "base alugada", sem verba pública para seus currais eleitorais em ano de eleições, eles, claro, partem para o vale tudo ou tudo ou nada. O pior de tudo é que esse modelo de gestão de coalizão é replicado em todo o Brasil. Os lobos do Congresso só querem saber dos seus, o resto é o resto.

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  4. Caro anônimo das 09h19. Infelizmente eles estão aí porque os bons não querem ocupar o espaço que essas figuras ocupam. Daí... somos responsáveis porque os bons se acomodam e os maus não. Infelizmente !

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  5. Em política quem são "os bons"? Bons para quem?

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