segunda-feira, 20 de janeiro de 2014
Paraense na reunião de Cultura da ONU
O tema da Cúpula Mundial para as Artes e Cultura 2014 foi Tempos Criativos - novos modelos para o desenvolvimento cultural. Os debates abordaram a arte e cultura em tempos críticos como a globalização, o papel da cultura na gestão de desastre natural e ambiental, mudanças no desenvolvimento econômico e social e novas formas de comunicação estão gerando uma série de desafios e oportunidades dentro do campo cultural, mudanças na economia e fluxo, indústrias criativas, protocolos e salvaguardas internacionais e sobre como isso está impactando no desenvolvimento das nações, sendo a partir desses questionamentos elaboradas as propostas para a agenda de cultura de 2015 da Organização das Nações Unidas. Participaram desta cúpula autoridades de cerca de 80 países, agentes financiadores de artes e líderes culturais da sociedade civil.
O convite à ativista marajoara foi devido ao seu projeto de pesquisa sobre a Cultura Alimentar Tradicional Amazônica ser considerado pela IFACCA uma proposta inovadora para o desenvolvimento social a partir da cultura. O convite e o apontamento da IFACCA foram feitos ainda em maio, mas meses depois vieram o alcance aos direitos civis. A base de estudos e a busca por alcance de direitos civis fizeram desse projeto argumento para a luta pelo reconhecimento da comida como cultura no Brasil, do qual Tainá Marajoara é a liderança reconhecida por povos indígenas, povos tradicionais, chefs, estudiosos, profissionais da cultura e outros atores da sociedade civil de norte a sul do país. A conquista foi homologada pelo Ministério da Cultura no dia 18 de dezembro de 2013 com a inclusão do Colegiado Setorial de Cultura Alimentar, após aprovação pelo Conselho Nacional de Política Cultural da moção apresentada durante a Conferência Nacional de Cultura, em novembro de 2013, em Brasília.
Em seu pronunciamento na plenária da manhã do dia 15, a única representante da sociedade civil da Amazônia ressaltou a importância do reconhecimento da comida como cultura para a América Latina: “A cultura alimentar dos povos originários é sua grande resistência ao sistema hegemônico, seja por resistir a dominação simbólica seja por resistir economicamente por suas negociações estarem em grande parte na economia solidária e na agricultura familiar. Resiste quanto América Latina desde os primeiros enfrentamentos com os colonizadores até o imperialismo das técnicas europeias de cozinha. (...) A cultura alimentar latino-americana carrega em si a sabedoria ancestral, imaginários, cosmovisões, organização social, técnicas, tecnologias e estéticas próprias e autóctones, como nas culturas Mapuche e Marajoara. (...) Assim como nossos produtos enfrentam barreiras europeias deveríamos frear a dominação ideológica em nossa cozinha, pois como é possível mensurar que um corte de peixe francês é "superior" ao corte indígena amazônico? (...) O reconhecimento oficial da comida como cultura é imprescindível não só para o desenvolvimento cultural ou para o desenvolvimento social, é essencial para o desenvolvimento da humanidade, pois a partir do momento que a comida é compreendida como uma expressão cultural também estamos promovendo a cultura de paz ao ampliar a visão do poder público e sociedade civil sobre o assunto, combatendo assim a intolerância cultural, o fetiche materialista, o turismo alienado do valor simbólico e outras práticas materialistas como o grande latifúndio, a devastação e a miséria. E sim, promover a cultura de paz, o compartilhamento de benefícios sociais, a soberania e segurança alimentar.”
Seu discurso foi muito bem recebido pelas autoridades, sensibilizando até mesmo o Sub Secretário Geral da ONU – Organização das Nações Unidas Heraldo Muñoz: “Felicito-te por tua iniciativa e liderança muito lúcida. O reconhecimento pelo governo brasileiro da comida como cultura vem muito tarde pois é um país com uma gastronomia riquíssima e uma característica cultural muito forte. É um passo muito grande e importante em termos culturais e para o desenvolvimento social do país.”.
Também foi cumprimentada pelo ministro da cultura do Chile, Roberto Ampuero: “O Chile já realiza ações para sua cultura gastronômica mas ainda não temos legislação específica. Sem dúvida o reconhecimento oficial é muito importante para assegurar políticas públicas para a gastronomia e vital para a identidade e valorização cultural da América Latina.” E a convite do Conselho Nacional de Cultura do Chile, Tainá, estará participando de encontros até o dia 22 de janeiro com cozinheiros tradicionais, chefs, agentes culturais e gestores públicos para compartilhar sua experiência junto ao poder público e mobilização da sociedade civil, e realizar intercâmbio cultural alimentar.
E completa: “Como boa papa-chibé, vim ao Chile com meu isopor! Trouxe doce de cupuaçu, cuias marajoaras, farinha d’água de Bragança e presentes especiais do Instituto Paulo Martins, como a geleia de pimenta de cheiro e o livro Cozinha Papá-Chibé. Espero que com essas ações a nível mundial sensibilizemos as autoridades paraenses, pois ainda não temos o reconhecimento oficial da cultura alimentar nem pelo Governo do Estado do Pará nem pela Prefeitura de Belém.”
Tainá Khalarje participou desta plenária da ONU de modo independente, representando a Iacitatá Amazônia Viva, organização da sociedade civil da qual é presidente. Não recebeu nenhum apoio público nem do governo do estado nem da prefeitura de Belém para divulgar a cultura paraense no exterior.
Fonte: Assessoria de Imprensa
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