Olhem só, meus caros.
Confiram abaixo.
O texto traz duas historinhas.
Historinhas é modo de dizer.
São duas situações esdrúxulas, ou surreais, como as classifica a jornalista Ana Diniz, autora da narração enviada ao Espaço Aberto.
Leiam e vejam só como uma vida pode se perder em meio à burocracia, à inação, à insensibilidade.
Vejam como uma vida pode se perder em meio ao desvirtuamento do exercício de funções públicas, que, em vez de carimbos, armamentos ou pedaços de papel, precisariam apenas de uma pitada de bom senso e sensibilidade para se mostrar à altura das expectativas que os cidadãos esperam de quem atua no serviço público.
Leiam abaixo.
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Estava eu no Ver-o-Peso, fugindo dos supermercados lotados no último dia 24, quando, no hall do Mercado de Carne, porta que dá acesso ao Boulevard, um homem pôs a mão no peito e caiu desacordado. A mulher que o acompanhava ajoelhou-se ao lado, tentando reanimá-lo com carinho e palavras. Certo de que isso não seria suficiente, meu filho atravessou a rua até um posto policial estacionado na calçada do prédio em frente. Um policial militar apreciava o movimento. Meu filho informou que havia um homem caído, provavelmente com um ataque de coração, na porta do mercado. O soldado respondeu que não podia fazer nada, porque estava sozinho no posto e não podia sair de lá. Meu filho lhe disse então que usasse o rádio do posto para pedir uma ambulância. Ele informou que também não poderia fazer isso, dizendo ao meu filho que fosse pedir ajuda no posto da guarda municipal, a alguns metros adiante.
Meu filho correu ao posto da GM e a guarnição imediatamente se deslocou para lá. Para meu espanto, havia três guardas bem armados, uma guarda com um aparelho móvel de rádio e um quarto guardo armado com o que me pareceu ser uma escopeta – uma arma de cano longo. Enquanto a guarda pedia uma viatura, os demais se posicionaram em torno do homem caído e o guarda com a escopeta fazia a guarda da ocorrência, postado à frente do grupo. Uma coisa surreal, porque ninguém tentou, talvez por não saber, reanimar o homem caído. Menos mal que a GM embarcou o homem na própria viatura, sem esperar ambulância. Eu espero que o homem tenha sobrevivido.
Fiquei pensando se o soldado da PM que estava de guarda é tão indiferente ou cruel que não pudesse passar um rádio para pedir uma ambulância. Concluí pelo melhor: provavelmente ele não sabe usar o rádio. Daí eu pensei: o que faz um PM sozinho num posto do Ver-o-Peso, sem rádio para pedir ajuda? E o que faz a Guarda Municipal armada como se fosse deter assalto a banco, no Ver-o-Peso? Procura encrenca? O Ver-o-Peso é o paraíso do descuidista, do trapaceiro e do batedor de carteira. Para que o armamento pesado?
Tudo isso me deixou uma sensação de surrealismo que, afinal, à noite, se completou.
Um outro homem, cuja irmã é enfermeira, sofreu um AVC na madrugada do dia 25. Foi internado no pronto-socorro e atendido, precisando de um leito de UTI. À tarde, o leito foi disponibilizado para a transferência do doente. Mas ele não foi, porque, segundo foi informado à família, o médico que prestou o atendimento não fez o cadastro dele no sistema. Então, sem cadastro, o hospital não aceita o paciente e não há transferência para a UTI, e, consequentemente, a intubação. Sem esta, não é possível fazer o exame no cérebro. Sem o exame, não há tratamento adequado. O cadastro só poderia ser feito hoje [ontem] pela manhã. E eu espero de coração que o homem tenha resistido, que o AVC não tenha progredido, que ele não esteja morto ou paralisado.
Triste sistema de saúde em que um cadastro ou carimbo é mais importante que uma vida...
O que mais me surpreende no "modus operandi" das nossas PMs, é o seguinte : qual é a função do PM que fica " sozinho" no posto policial, se ele não pode atender a nenhuma ocorrência? Não seria melhor fechar o posto e sair para trabalhar nas ruas?
ResponderExcluirVocês já prestaram atenção no fato de que a PM quase nunca evita os crimes? Sempre chega depois, atrasada ou chamada, mas nunca está aonde deveria estar.
E quando os helicópteros das TVs estão por perto? Vocês já notaram o número de viaturas da PM que estão "no local do fato"?
Houve um crime(assalto ou homicídio, por exemplo). O crime já aconteceu, já terminou, mas no local vemos umas 10-20 viaturas da PM.
Será que está sobrando efetivos e guarnições ? Acho que não. Para mim, o que sobre é um total despreparo das PMs, que como sói acontecer com os governos, sempre chegam a reboque, atrasados, para consertar o estrago. Nunca chegam preventivamente, nunca trabalham preventivamente.
E vocês também já se deram conta do espetacular número de coronéis na corporação? E também do espetacular índice de viagens para treinamento, simpósios, conferências de segurança, etc, da qual participam?
Nada contra que se atualizem em suas táticas e estratégias, mas dentro do razoável.
Kenneth
Já escrevi e repito: extingam as polícias militares. Só um recado: já tem viúvos da Patam e da ditadura militar.
ResponderExcluirSurreal também é assistir na tv a propaganda do gobierno federal tecendo loas e fogos para as UPAS e SAMUs e seus espetaculares atendimentos.
ResponderExcluirEstamos no paraíso.
Artificial mas paraíso.
Omissão de socorro, isto sim!
ResponderExcluirGuarda Municipal armada até os dentes, pode? Com escopeta?Pode? Será que alguém pode dizer onde está escrito esse pode! ?
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