segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Muita propaganda, pouco resultado


Em 2014, ano de eleições majoritárias, a polarização PT-PSDB completará 20 anos. Mesmo que o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e a ex-senadora Marina Silva se apresentem como uma terceira via, nada, nada indica, por ora, mudanças no embate nas urnas. Se assim for, a dicotomia petista-tucana terá perdurado mais do que a velha rinha, o PTB de Getúlio Vargas e a implacável UDN de Carlos Lacerda do século passado.
Como ontem, o atual combate escora-se em um pilar que fez, faz e fará mal à democracia, a criminalização da política. Com cada vez menos diferenças ideológicas e, em grande medida, trancafiados em uma cilada montada pelo poder real, permanente, entre eles e a mídia, as duas legendas têm aceitado a pauta. O PT, pela incompetência e incapacidade de exorcizar seus fantasmas internos, admitir erros ainda que merecedores de punições dentro das regras republicanas. O PSDB, por falta de um programa de governo, com esperança de voltar ao poder por meio do discurso moralista, deixar de ter medo e fazer uma oposição de fato.
Obviamente, que o pugilato moral é ruim para as duas forças. Uma vitória por pontos no octógono não acrescenta muito se, no fim das contas, a plateia vaia os contendores no ringue. E é o que tem ocorrido, como enfatiza o cientista político Marcos Coimbra: “Quem lida com pesquisas de opinião, particularmente as qualitativas, vê avolumar-se o contingente de eleitores que mostram odiar alguma coisa ou tudo na política. Não a simples desaprovação ou rejeição, o desgostar de alguém ou de um partido. Mas o ódio”. A desilusão atinge até mesmo os habituados ao jogo político. Parece até que não há diferença na proposta político-econômica dos presidenciáveis. Nenhum deles discute mudanças ou reformas estruturais.
Apesar de estar com vantagem nas pesquisas, os índices de popularidade de Dilma não servem para nada. Explica-se: essas pesquisas não permitem a compreensão da realidade, até mesmo pela forma como as perguntas são feitas pelos institutos de pesquisas e respondidas pelos entrevistados. As pesquisas dão apenas uma noção de como as pessoas veem o debate político. Mesmo tendo uma parcela considerável de eleitores, o PT nunca venceu uma eleição presidencial no primeiro turno. Em 2002, quando era oposição, ganhou no segundo turno. Em 2006 e 2010, quando era governo, idem. Em 2010, até uma semana antes do pleito, diziam que Dilma teria 54% dos votos no primeiro turno. Teve 46%. Sempre há uma supervalorização da popularidade do governo. Em 2010, apesar da derrota, a oposição recebeu 44% dos votos no segundo turno.
O que levou o PT a ganhar três eleições seguidas? O PT estabeleceu uma sólida aliança entre a base da pirâmide e o grande capital. Levando em conta que o Bolsa Família tem 13,5 milhões de famílias cadastradas, e cada família tem, no mínimo, três eleitores, só aí são 50 milhões de pessoas, o equivalente a um terço do eleitorado. O governo se aliou a grandes proprietários de terra, construtoras e aos setores mineral e industrial. O BNDES virou um instrumento de enorme eficácia para fortalecer essa aliança entre o PT e o grande capital. Essas alianças alcançaram tal solidez que, hoje, é muito difícil rompê-las.
Excesso de exibicionismo é perigoso. No populismo não pode dar bobeira, o símbolo maior era a UDN. Nos tempos mais recentes, o PT. Qualquer oposição age diuturnamente criticando o governo e buscando uma aproximação com a sociedade, pensando sempre na próxima eleição, como fazia o PT no governo Fernando Henrique. O PSDB, não. A impressão é que o PSDB se sente constrangido de ser oposição. Parece que executa essa tarefa com desagrado. A oposição tem de ser agressiva. A oposição não sabe fazer política. Quer chegar ao poder sem fazer política. Não por acaso, foi derrotada nas eleições de 2002, 2006, 2010. Ao que tudo indica será derrotada em 2014 de novo.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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