Por ANA DINIZ, jornalista, em seu blog Na
rede
Mandela foi o último grande herói do século XX a morrer.
Equipara-se a Gandhi e Luther King na habilidade do manejo da resistência em
favor da liberdade. Faço o registro, obrigatório para um jornalista como eu,
acompanhando todo mundo, mas não é dele que quero falar.
Eu quero falar é do ministro controlador geral da União,
que ontem deu uma entrevista dizendo que os corruptos emblemáticos não estão
presos. Ele tem razão. Mas eu me pergunto porque o controlador geral da União
não age contra os corruptos emblemáticos. Está a seu alcance, visto que eles
continuam recebendo dinheiro público.
Ele me responderá, provavelmente, que a Controladoria
executa trabalho interno. É verdade, também. Mas também é verdade que em nome
desse trabalho interno que atazana a vida de milhares de ocupantes de pequenos
cargos criou-se uma estrutura ministerial – e não se sabe se o resultado do
trabalho interno compensa o gasto. Nenhuma grande corrupção foi apanhada, até
agora, pela Controladoria. Nem mesmo as operações das grandes construtoras, que
o Brasil inteiro conhece.
O Brasil hoje vive um excesso de pseudocontroles. Uso esta
expressão porque a quantidade de auditorias, controladorias, tribunais de
contas e assemelhados é tanta que o serviço público deveria ser puro. Não é,
porque todos esses controles são apenas edifícios de papel. Montanhas de papel.
Está o carimbo no lugar, tudo bem. E só.
Na administração pública, hoje, tudo que é contrato e
convênio tem que ter um pobre diabo atrelado: um funcionário encarregado da
fiscalização. Já vi agente de portaria ser fiscal de contrato, na falta de
outro qualquer. É obrigatório, o que fazer? Na grande maioria dos contratos não
há problema algum a ser apurado; a empresa cumpre o que promete, a
administração paga o que empenhou. Os prazos são cumpridos mais ou menos, até
porque a administração geralmente descumpre os seus; e o que se acertou é
feito. Mas tem que ter esse fiscal que nem sabe o tamanho da fria em que está
metido até que a corda arrebente do seu lado, simplesmente porque ele é o mais
fraco na história toda. Este é um pseudocontrole com um cristo à mão.
Ontem todo mundo viu na televisão outro pseudocontrole: um
ínclito membro do Ministério Público tirando a polícia de um estádio de futebol
num jogo decisivo. Ah, porque o evento é da iniciativa privada! Engraçado: o
povo estava lá, o povo que precisa de segurança, mas isto não conta. Precisa do
carimbo do dinheiro para saber o que a polícia deve ou não deve saber. Então
ponha o carimbo: evento privado! Para os torcedores que saíram quebrados ou
presos, deve ser significativo saber se o evento foi privado ou público. Também
não é significativa a conta passada ao SUS no socorro dessas pessoas.
Eu ainda tenho esperanças de ver a burocracia se recolher
ao seu tamanho indispensável, os bancos assumirem seus malfeitos, a lei de
licitações ser substituída por algo mais perto da realidade, o Brasil se
identificar como plural, com um mínimo de camisas de força nacionais, com uma
justa repartição tributária e mais bom senso e eficiência nos governos. Mas a
cada episódio desses eu sinto esse dia muito distante.
Não faz mal. Mandela soube esperar, em muito piores
condições. Eu acho que vale a pena seguir o exemplo dele.
A jornalista está coberta de razão. O ministro sabe quem são os corruptos. Só penso nos corruptores. Nada acontece com eles? Então o Brasil não vai mudar. Mensaleiros estão presos, ótimo, adorei. Os empresários que chafurdaram com eles não ouvimos falar.
ResponderExcluirGandhi e Luther King não montaram grupos armados de resistência.
ResponderExcluirMuito bom o artigo. Esse Mandela é show. Mesmo depois de morto, ainda conseguiu produzir um aperto de mãos entre o Obama e o Raul Castro.
ResponderExcluirKenneth