quinta-feira, 17 de outubro de 2013

A sagração da reportagem

Por ALBERTO DINES, no Observatório da Imprensa
Todo jornalismo é investigativo, inquiridor, questionador – em qualquer página, em qualquer assunto. Mas o jornalismo investigativo hoje se tornou um gênero à parte que designa a grande reportagem, trabalho de fôlego, demorado, sem a pressão dos prazos. No sábado (12/10), começou no Rio de Janeiro a Oitava Conferência Global de Jornalismo Investigativo, reunindo consagrados profissionais daqui e do exterior e promovida pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji).
E para mostrar que o jornalismo investigativo não é apenas obrigação, mas uma realidade concreta, os três jornalões nacionais vêm publicando nos últimos dias matérias e excepcional envergadura e destinadas a ter intensa repercussão.
E depois?
Na semana passada, O Globo escancarou as vinculações entre os torturadores que serviram à ditadura militar e os contraventores que controlam o jogo do bicho. No domingo (15/10), o repórter da Folha de S.Paulo Reynaldo Turollo Junior mostrou como é fácil obter um RG em qualquer estado brasileiro, já que o país não dispõe de um cadastro nacional integrado. Com o seu nome, retrato e impressões digitais obteve nove registros diferentes, sendo que num deles com o nome alterado.
Estado de S.Paulo não ficou atrás e, no mesmo domingo, ofereceu um impressionante levantamento sobre os assassinatos políticos nos quatro cantos do país. Num caderno de doze páginas, o repórter Leonencio Nossa, de Brasília, desvendou uma democracia vulnerável, incapaz de reagir à barbárie silenciosa que em 30 anos produziu 1.133 assassinatos políticos, um a cada onze dias.
Depois deste espetacular show investigativo protagonizado pelos “três grandes” do Rio e São Paulo, vamos ver como se comportam no dia seguinte, porque depois das grandes revelações é preciso dar sequência, buscar consequências no trabalho cotidiano, anônimo e continuado.

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