Por Tony Goes, no F5
"Você é a favor de protesto com baderna?" A pergunta era retórica, como costumam ser nas enquetes telefônicas do "Brasil Urgente" (Band). O que o apresentador José Luiz Datena (na foto) queria era apenas confirmar o aval do público para sua própria opinião.
E levou um susto no ar, ao vivo e a cores em transmissão nacional. O "sim" ganhou por 2.179 votos --mais do que o dobro do "não", que teve apenas 915. A cara de espanto de Datena logo se transformou em "meme" nas redes sociais, e viralizou.
A pesquisa foi feita em seu programa de quinta-feira passada (13), quando boa parte da população ainda estava contra as manifestações do movimento Passe Livre. Mas esta maré já estava mudando, tanto que apanhou de surpresa um profissional experiente como Datena.
Naquela mesma noite, o caldo transbordou em São Paulo, com a PM reprimindo de forma brutal um protesto até então pacífico. No dia seguinte, Datena criticou duramente a polícia e se disse emocionado com as imagens das pessoas nas ruas.
A virada de casaca do mais conhecido jornalista policial do país, famoso por suas posições reacionárias, é emblemática do que acontece na mídia como um todo, e em especial na TV.
O movimento contrário ao aumento das passagens de ônibus surgiu de repente e comportou-se muito mal num primeiro instante, com depredações injustificáveis. Mas já cresceu tanto que extrapolou seu objetivo inicial.
Agora está canalizando a insatisfação generalizada que permeia o Brasil de norte a sul. A euforia dos anos Lula deu lugar ao desencanto dos anos Dilma. Os brasileiros perderam a paciência com a inépcia e a corrupção, e os órgãos de comunicação ainda não sabem como lidar com isto.
No sábado (15), a Globo deu pouco destaque à vaia que Dilma e Joseph Blatter, o presidente da FIFA, levaram do público presente ao estádio Mané Garrincha durante a abertura da Copa das Confederações. A emissora chegou a cortar essa vaia do material que distribuiu a outros veículos; só a restaurou depois que o UOL reclamou.
Algo parecido aconteceu em 1984, durante a campanha pelas Diretas Já. As primeiras passeatas tiveram pouquíssima cobertura. Só quando reuniram milhões de pessoas é que ganharam destaque na tela da TV.
Ainda é cedo para dizer se estamos vivendo um momento semelhante. Manifestações e até greves estão sendo convocadas em todos os estados, mas dependem da adesão popular e da repressão do Estado (que, se for desproporcional, pode até ajudar o movimento a crescer, como aconteceu na Turquia e está acontecendo em São Paulo).
Para alguns setores da mídia, o "timing" não podia ser pior. Afinal, há um grande campeonato de futebol em curso, patrocinado por marcas que exaltam a alegria de ser brasileiro e enfeitado por humoristas que tentam achar graça onde ela não existe.
Mas agora também existe a internet, e toda uma geração que está sentindo pela primeira vez o "frisson" de ir para as ruas. Uma nova realidade, que está atingindo a imprensa tradicional feito balas de borracha. O jeito é correr atrás, sob o risco de ser atropelado pelo Facebook e pela marcha inexorável da história.
Tony Goes tem 52 anos. Nasceu no Rio de Janeiro mas vive em São Paulo desde pequeno. É publicitário em período integral e blogueiro, roteirista e colunista nas horas vagas. Escreveu para vários programas de TV e alguns longas-metragens, e assina a coluna "Pergunte ao Amigo Gay" na revista "Women's Health". Colaborador frequente da revista "Junior" e da Folha Ilustrada, foi um dos colunistas a comentar o "Big Brother 11" na Folha.com.
O autor do artigo quer dizer que então pode quebrar tudo?
ResponderExcluirXiii, melhor desenhar, o 09:19 não "intendeu".
ResponderExcluirSe pode ter baderna, pois o sim ganhou, pode quebrar. Mas desenhe, eu aguardo.
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