(ou “Todos cagam nas nossas cabeças, inclusive as garças”)
Por NÉLIO PALHETA, jornalista
Enquanto milhares de pessoas faziam protesto contra o custo de vida e a corrupção eu fazia minha caminhada noturna na Praça Batista Campos, em Belém. E acho que, pela opção de não ter ido à Avenida Almirante Barroso, fui castigado. Egoísta, fui brindado - novamente, diga-se de passagem - por uma das garças instaladas no dormitório das sumaumeiras e mangueiras da praça (trecho da Serzedelo Corrêa).
A cena é desconcertante. Anda-se driblando as golfadas aeroescatológicas. Seria um protesto ornitológico. É isso! Fui atingido por um artefato de vândalo voador. armado de spray de tinta ora branca ora cinza: “Todo dia cagamos na cabeça da elite de Belém”; “Viu só Maricota, acertei bem na cabeça daquele careca!”; “Vira o cu para a esquerda, pra esquerda., acerta na gordinha; lá vem aquela gordinha cheia de celulite, não perde essa.Vai, vai, vai! Acerta, acerta bem em na bunda empinada dela.” – divertem-se as garças empoleiradas. Se não bastassem as golfadas (ou garfadas?) dos políticos empoleirados em suas bancadas! Prefiro as das garças, que não afetam minha qualidade de vida, afinal, nada que elas fazem resistem a um bom banho. Já as outras cagadas.
A calçada, jardineiras e bancos da praça ficam alvos dos dejetos dos bípedes que migram para aquele dormitório, já belamente fotografados pela amiga Walda Marques; sábado passado amanheceram na calçada umas pratiqueiras - o jantar anterior das C. albus deve ter sido farto! O odor, já impregnado naquele ponto da bela praça, é farto também; desagradável, porém. O caminhante que se desvie, proteja a cabeça com um boné e tape o nariz.
Não sei não: qualquer hora vai sair da Praça Batista Campos uma passeata protestando contra o cocô das garças que empesta o logradouro. “Abaixo o cocô! Abaixo o cocô! / Limpe a praça, por favor!”; “Prefeito Zenaldo, limpa o cocô / Isso dá bom caldo (de voto)!”. Seriam boas palavras de ordem. Sim, limpar cocô pode dar voto. Por que não? Se já na bastassem os mensalões, a inflação, o custo de vida, as licitações fraudulentas, os políticos corruptos, temos as garças também sujando nossas cabeças. Mas há diferença entre os tipos de dejetos: os das elegantes e alvas garças são até suportáveis, no chão da praça, formam uma pintura abstrata monocromática; mas a merda que o governo e suas bases parlamentares jogam sobre nossas cabeças enlameiam nossa dignidade. Tornou-se mesmo insuportável, estão dizendo milhares de manifestantes Brasil afora.
Para evitar a “Passeata dos Cagados na Cabeça”, ou do MPM (Movimento do Passeio sem Merda) da Praça Batista Campos, aqui vai uma solução simples, barata, prática e simpática para evitar vexame nacional: abaixo e ao longo dormitório das Casmerodius albus - elementos da Ordem dos Pelecaniformes - poderia ser instalado um sistema de telas suspensas (móveis, para que possam ser regularmente limpas e as folhas das árvores removidas) cobrindo a calçada, acima das luminárias. Basta um engenheiro criativo e dedicado da Secretaria de Meio Ambiente bolar um sistema de instalação e limpeza da geringonça. Com certeza, o prefeito ganharia os aplausos de milhares de pessoas que caminham diariamente e na praça fazem seu lazer, nos fins de semana. Fora isso, a iniciativa ganharia o selo da Associação de Defesa dos Animais e dos ambientalistas de plantão. Na Câmara, os vereadores da Base Parlamentar apresentariam um Requerimento de Bancada. Seria aprovado por unanimidade das excelências, não sem longos discursos elogiando a iniciativa. Seria um “Requerimento de Merda”, certamente. E a PMB não gastaria nada com o projeto, permitindo que a tela fosse instalada por empresas interessadas na empreitada, em troca de propaganda de produtos de higiene, saponáceos, louças sanitárias, detergentes. Seria a Mídia da Merda. Só não valeria propaganda política, afinal, já temos muita merda (Ops! Propaganda) bastante na televisão; o logo do governo federal ficaria bacana e talvez contivesse em Belém a queda da popularidade da presidente Dilma.
E assim, seríamos poupados da sujeira das aves (que não são de rapina, diga-se). Da outra, as ruas já estão cuidando.
Na Europa, lavam-se as ruas.
ResponderExcluirTem de instalar um sistema assim na Câmara Municipal.
ResponderExcluirPra colher a "produção" dos "nobres" vereadores(as), evitando que nos melequem.