segunda-feira, 25 de março de 2013
Francisco da Companhia de Jesus
Muitas vezes, o livro da História sai arranhado. Na Antiguidade, Jesus Cristo e Sócrates são os exemplos mais marcantes de condenações exemplares, que visam conter o espírito insurgente e a busca pela liberdade de pensamento. Na Idade Média, os Templários passaram de cavaleiros defensores dos peregrinos da Terra Santa a potencial ameaça ao poder de Felipe, o Belo, que optou por eliminá-los. Os Templários também foram vítimas do Vaticano, mas, sobretudo, do poder real que começava a se impor sobre o espiritual. Joana D’Arc guiou Carlos VII ao trono da França e ganhou como pagamento um lugar na fogueira. Era a perseguição implacável da Inquisição. Já se percebia, à época, que os valores democráticos numa Europa que começava a ser encoberta pela nuvem negra da xenofobia.
Os Templários foram perseguidos, e muito deles se refugiaram nos países de que eram naturais, principalmente, nas províncias italianas e espanholas. Após ser ferido em combate na defesa da fortaleza de Pamplona contra os franceses em 1521, o cavaleiro templário Inácio de Loyola veio buscar refúgio quando os últimos raios de sol douravam os cimos do Montserrat, áspera montanha que se ergue para o céu às proximidades de Barcelona. Estamos na parte mais rude e montanhosa da selvática província da Catalunha. Loyola, de origem nobre, após muitas reflexões decidiu-se a desprezar os bens terrenos em busca dos sobrenaturais. Lá habitavam frades templários, que segundo afirmavam tinha encontrado abrigo às ideias donatistas, que vieram de Cartago, na África, vizinha da Espanha.
Ainda na Abadia de Montserrat, Loyola se reuniu com alguns irmãos da ordem do Templo. E percebendo que a Ordem acabara, disse que se retirava da instituição que lhe sucede, a Maçonaria, que acabam de proclamar, e declara instituída a Companhia de Jesus, cujos membros são conhecidos como jesuítas. É uma congregação religiosa fundada em 15 de agosto de 1534, por Loyola e mais o francês Pedro Lefèvre, de Villaret, os espanhóis: Francisco Saverio, cavaleiro de Navarra, Jacopo Laynez, de Almazar, Afonso de Salmeron, de Toledo, Nicolau Afonso, de Bobadila e o português Simão Rodrigues, de Avedo. A finalidade da Companhia de Jesus era “desenvolver trabalho de acompanhamento hospitalar e missionário em Jerusalém” ou para ir aonde o papa os enviasse sem questionamento. A congregação foi reconhecida por bula papal “Regimini militantis Ecclesiae” em 27 de setembro 1540, por Paulo III.
A Companhia de Jesus sofreu perseguição devida sua íntima união com a Santa Sé, a universidade do apostolado e a firmeza de princípios. Os jesuítas alcançaram grande influência na sociedade nos períodos da idade moderna (séculos XVI e XVII), frequentemente eram educadores e confessores. Tinham muita coragem, desprendimento, empenho e vigor apostólico que caracterizava os presbíteros jesuítas.
Apesar de ser uma vanguarda da evangelização, a vinculação entre jesuítas e a Cúria Romana sempre foi marcada por altos e baixos. A Igreja, todos sabem, teve uma série de papas, uns tíbios, outros vorazes e corruptos que quase acaba com a instituição vencedora dos séculos. Hoje, padece de uma crise quase semelhante tanto no âmbito moral quanto administrativo. A gravidade maior é representada por escândalos sexuais e financeiros.
Precisamos exorcizar aquela história que a Companhia de Jesus é comandada pelas ordens ameaçadoras do Papa Negro. Agora, pela primeira vez, um jesuíta, o argentino Jorge Mario Bergoglio, foi elevado em conclave no Vaticano, Eminentíssimo, Arc-reverendíssimo, Santo Padre da Igreja Católica Romana, Papa Francisco. A Companhia de Jesus está em festa. Se Francisco conseguir as reformas de que a Igreja tanto necessita e conseguir eliminar os escândalos que assolam a Cúria, com certeza, Francisco, que dá mais importância à misericórdia e ao perdão, fará da Igreja a nova fé no futuro.
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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
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