segunda-feira, 11 de março de 2013
A volta do culto à personalidade de Stalin
A União Soviética, desde os seus primórdios, mantém um véu sobre toda a sua real história e os malfadados acontecimentos não tem como passar despercebidos. Sempre foi um Estado que contém muita história e intrigas. Muitas relacionadas ao caráter de seus dirigentes. Poucos personagens da história foram mais perversos que o georgiano Josef Stalin, líder da União Soviética por 30 anos, de 1922 até sua morte, em 1953. Ele sempre se destaca e aparece em companhia de gente como Gêngis Khan, Átila, o rei dos Hunos e mais recentemente a Mao Tsé-Tung e assemelhados. Não por acaso, um de seus ídolos era Ivan, o Terrível, um czar que fez valer o adjetivo.
No começo do ano, no povoado de Akura, na Georgia, a população reinaugurou um busto de Stalin, o ditador que comandou os soviéticos com mãos de ferro e sede de sangue por três décadas, de 1922 até sua morte, há 60 anos. A estátua havia sido retirada pela prefeitura em 2010, mas os moradores resolveram gastar dinheiro do próprio bolso para restaurar a obra e devolvê-la ao seu pedestal na praça principal do lugar. Stalin é retratado como ícone ortodoxo. Para muitos russos, ele é uma espécie de pai da pátria.
O ditador que matou milhões de pessoas de fome, traiu companheiros e usou seu povo como bucha de canhão, a história já deu a Stalin seu lugar: o de tirano cruel. O homem sem escrúpulos que não se importou em matar milhões de ucranianos, cazaques e siberianos de fome durante o período de coletivização do campo na URSS, no início dos anos 30. O líder responsável pela morte de 700 mil bolcheviques e militares nos chamados Processos de Moscou, no qual a maioria das “confissões” era obtida por meio de tortura. O maquiavélico que fez alianças com membros do partido apenas para isolar supostos adversários e, em seguida, traí-los e condená-los à morte.
Comunista sem princípios que se aliou ao nazismo com o pacto de não agressão de 1939. O general idiota que usou a população russa como bucha de canhão na Segunda Guerra, na qual a URSS perdeu quase 24 milhões de pessoas (em comparação, às baixas da derrotada Alemanha não chegaram a 8 milhões). Por fim, sua morte levou à divisão mundial do comunismo, com defensores e detratores que romperam com o monolito esquerdista que seguia os ditames de Moscou.
É fundamental observar a volta da veneração à personalidade de Stalin nos países da antiga União Soviética, em especial na Georgia, onde nasceu, e na
Rússia, a capital do império, não é obra de amadores e nem se limita a fãs esparsos do ditador bigodudo. Ela encontra eco em intelectuais e historiadores. E pode ser vista nas ruas de Moscou. Desde outubro do ano passado, uma organização civil chamada de Sindicato dos Cidadãos Russos recolhe assinaturas para devolver a Volvogrado o nome pelo qual a cidade se tornou célebre em todo mundo: Stalingrado. Diz o historiador Aléksander Vershínin, que: “Stalin surgiu do sangue da guerra civil. E, no lugar do caos, instalou a calmaria”. Pois é, se houve calmaria, foi a paz dos cemitérios.
Stalin, batizado Iosif Vissarionovich Dujgashvili, morreu em março de 1953. Adotou o nome de Koba, um personagem fora da lei do romance de “O Parricida”. Desde então, a Rússia está na terceira onda de “desestalinização”. A primeira, conduzida por Nikita Kruschev em seu famoso discurso secreto no 20º Congresso do Partido Comunista da URSS, revelou os crimes de Stalin. A segunda veio nos anos 80, com a perestroika de Makhail Gorbachev, líder que combatia qualquer manifestação de apoio ao totalitarismo. Por fim, a terceira onda é recente. Iniciou- se em 2010 com a nomeação de Mikhail Fedotov ao cargo de chefe do Comitê Presidencial para os Direitos Humanos. Sua preocupação primeira foi declarar guerra ao culto de Stalin.
Todo povo tem o herói que merece. Boa parte da população ainda é propositalmente cega a todo esse mal, tanto por comodidade quanto por sua posição social. Provavelmente envenenados por um chá de trevas. O que não podemos deixar de notar e levar em conta são todas as verdades mostradas do que pensamos ser realidade.
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SERGIO BARRA é médico e professor.
sergiobarra9@gmail.com
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