segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Vaticínio difícil


Chegamos à metade do governo Dilma Rousseff. Restam-lhe, portanto, dois anos. Em dois anos, a presidente registra aprovação surpreendente. Diz-se que no primeiro ano ninguém governa, paga as contas do governo anterior. Os primeiros dois anos costumam passar devagar, dando a impressão como se fosse demora indefinida. Por esse prisma, nenhum outro presidente foi mais bem avaliado. Não se trata de “secar” o governo, mas a segunda metade passa como se fora um trem bala. Uma reta final, portanto, num ano extremamente administrativo e mais marcadamente político. A presidente conduz o governo com discrição e senso de responsabilidade. Mas parte da população não está satisfeita. E aí está o grande problema: reeleger-se ou escolher quem possa vencer a eleição que se aproxima.
Nosso país é cheio de contrastes. 2013, vai ser um ano difícil. Dependemos, queiramos ou não, de países como os Estados Unidos - que fizeram um acerto precário para sair do chamado abismo fiscal e adia a crise fiscal por mais dois meses -, China e da Europa. Sabemos que quando algo não vai bem com esses aliados, os respingos caem sempre sobre nós. Muitas das vezes, busca-se uma explicação para algo além do absurdo, a situação tem a convicção de querer explicar que o Brasil está preparado e que nada vai alterar os projetos do governo. Que não existe inflação. Então, precisam passar num supermercado e ver como o poder aquisitivo já não é mais o mesmo. A crise está lá, não aqui, dizem. Esquecem que estamos caminhando para a modernidade tecnológica, mas política e socialmente estamos na Idade Média.
Atualmente, determinado setor do governo acha que se produz mais do que a nossa real necessidade. As pessoas passam fome não por falta de comida, mas por má distribuição, má gestão e desperdício. Passa-se sede devido à poluição e falta de transporte não por escassez de água. Nossos reservatórios estão vazios e a estiagem toma conta de grande parte dos estados do Norte e do Nordeste. Os ricos possuem mais do que precisam para sobreviver por várias vidas, enquanto ainda há pessoas tentando fazer algo para se sustentar. Mas nada do que podem produzir tem algum valor de mercado. E como corrigir esse sistema? Melhor viver uma utopia na qual ninguém passa fome.
Não é segredo para ninguém que Dilma, nesses últimos dois anos de mandato, deu sequência à obra de seu antecessor, obviamente sem deixar de conferir marca pessoal ao desempenho. De saída, livrou-se de ministros incômodos, como o recorrente e exorbitante “operador” Antônio Palocci ou Nelson Jobim, que apresenta forte traço militarista. Seguiu a trilha previamente traçada. Lança, enfim, as bases de política econômica afinada, com os objetivos de um governo social-democrático habilitado à contemporaneidade do mundo.
As eleições, desencadeadas pela mídia contra os lulopetistas e contra o governo não arrefecerá certamente as perspectivas do pleito de 2014. Contudo, a campanha eleitoral já partiu e definiu seus temas recorrentes. Sim, os tempos mudaram e a cabeça do eleitor caminha sempre para a melhor escolha. Sobram, porém, os problemas criados pelo PT, da base governista e até do governo. Lula será capaz de conduzir o partido no retorno ao passado, para reencontrar aquela agremiação que o sustentou por três eleições? Vaticinar é tarefa muito difícil. Há parceiros confiáveis e outros só querem a escada da vantagem pessoal para se dar bem.

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SERGIIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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