segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Primavera que não floresceu


Envolvido em episódios tenebrosos da ditadura e símbolo de uma guerra que parece não ter fim, o levante sírio tem provocado milhares de mortes desde meados de março de 2011, uma onda de protestos contra o governo de Bashar al-Assad se formou na cidade de Homs, que não tardou em se tornar um conflito armado, o qual já dura mais de um ano. A Síria é um país árabe no sudoeste asiático e faz fronteira com o Líbano e o Mar Mediterrâneo a oeste, Israel a sudoeste, Jordânia ao sul, Iraque a leste e Turquia ao norte.
Ao contrário dos outros países do “Crescente Fértil”, onde a “Primavera Árabe” já está em um sistema transitório de governo, ou que controlaram as manifestações, a Síria permanece com um futuro incerto. A cada dia os conflitos ficam mais acirrados e o número de mortos fica sem uma estatística que não dá para ser estimada.
A comunidade internacional vem se mobilizando para pressionar a saída de Bashar al-Assad do governo ou encontrar uma solução pacífica. Todavia, alguns países não foram favoráveis às primeiras propostas da ONU, como por exemplo, China e Rússia, que vetaram a resolução que condenava a repressão do governo sírio contra os manifestantes. A posição russa é defendida com o argumento de que a resolução proposta pela ONU abriria precedentes para uma intervenção militar, igualmente ao ocorrido na Líbia em 2011. Contudo, deve-se levar em consideração que a Síria hoje é o único país árabe que permanece com laços políticos com a Rússia desde a antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
Ademais, tempos atrás havia grande interação com a Líbia no governo de Muammar Kadafi, Egito com Nasser e Iraque com Saddam Hussein. Todos esses líderes tiveram forte relacionamento político com a União Soviética e permaneceram com a Rússia. Por esse motivo a Síria sendo o único laço remanescente, passa a ser um caso muito particular para a diplomacia russa, uma vez que esse laço promove um vínculo entre o governo russo e os países árabes, algo que é de grande interesse para garantir uma influência política na região.
As negociações de um plano de paz propostas por Kofi Annan – emissário da ONU e da liga árabe – foi aceito pela Síria. Entretanto, alguns dias depois tudo voltou como era antes, um cenário diferente do proposto pelo plano, pois permanece uma forte repressão aos opositores. O grande problema é que quanto mais tardio acontecer o cessar-fogo, mais complexa ficará a solução dos problemas sociais na Síria. Os retratos desse levante mostram um cenário de miséria e de destruição com muitas mortes, fato que implica em um grande problema econômico e social.
 As sanções impostas pela União Europeia vão desde a proibição da entrada de pessoas ligadas à Bashar al-Assad na Europa até o bloqueio de exportações de equipamentos necessários para a exploração de petróleo e produção de energia, ou seja, essas sanções afetam justamente a indústria de base do país.
Além disso, é ser muito ingênuo afirmar categoricamente que nesta primavera florescerá a democracia, pois há vários exemplos de revoluções que visavam o bem do povo, mas se tornaram tão opressoras quanto o sistema derrubado, desde a Revolução Francesa até a Revolução Cubana. Não há sinalização sobre o fim desses conflitos na Síria, resta aguardar e torcer para que tudo volte a se normalizar. O clima de incerteza e aflição ainda é muito forte e muito enraizado ao poder.

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SERGIO BARRA é médico e professor
E-mail: sergiobarra9@gmail.com

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