terça-feira, 8 de janeiro de 2013
"Meus últimos suspiros..."
Conheci Maria da Graça Azevedo da Silva em janeiro de 1968, nas provas do vestibular para o curso de Direito da Universidade Federal do Pará. Ela, com 17 anos, vinha do Gentil Bittencourt. Eu, com 19, oriundo do Paes de Carvalho. Tínhamos algo em comum, pois éramos “interioranos”: ela nasceu nos magníficos “campos de Cachoeira”, no Marajó, cenário da obra fantástica do Dalcídio Jurandyr; eu vim à luz do dia em Alenquer, no “verde vagomundo” do Benedicto Monteiro.
Aprovados no vestibular, veio o “trote” regulamentar. Lembro-me bem que um dos calouros de Direito, que era deputado estadual pela Arena e fora meu professor no Dom Amando de Santarém, montou em um jumento, tradicional nos “trotes” dos futuros advogados, e discursou, desancando o governo militar, bem em frente ao Palácio Lauro Sodré, de cuja sacada central a tudo assistia o governador Alacid Nunes, que, felizmente, não mandou a sua segurança acabar com a brincadeira. Integramos, durante cinco anos, a mesma turma dos 112 bacharelandos que colariam grau em 16 de dezembro de 1972. Na Faculdade, tornamo-nos inseparáveis e o ano de 1968 marcaria as nossas vidas para sempre. Éramos todos um bando de jovens, “que amavam os Beatles e os Rolling Stones”; que admiravam os teóricos das guerrilhas Régis Debray e Ernesto Che Guevara (“Hay que endurecer, pero sin perder la ternura jamás..”); que liam o Livro Vermelho de Mao Tsé-tung e os poemas de Ho Chi Min (“Montes atravessei, venci as alturas. / As planícies são mais difíceis de passar. / Não me fizeram mal os tigres das montanhas, / mas encontrei um homem e ele me prendeu..”); que se maravilhavam com a “revolução cultural” e a quebra de todos os “tabus”; que vibravam com as “barricadas” nas ruas de Paris lideradas pelo Daniel Conh-Bendit, chamado “Dany, o Vermelho”; que protestavam contra a guerra do Vietnam e o “imperialismo norte-americano” mas, ao mesmo tempo, aplaudiam a “primavera de Praga” quando a Tchecoslováquia quis se libertar do jugo de Moscou; que, indignados com a morte do estudante paraense Edson Luiz, baleado por militares no restaurante Calabouço no Rio, engrossavam as “passeatas”, as “greves” e as “tomadas” das Faculdades, bradando slogans contra “a ditadura”, contra os “acordos MEC-USAID” (“USA e ABUSA!”, era o nosso lema) e a malfadada “reforma universitária” (que julgávamos ser pura malandragem dos militares para desarticular os estudantes, impedindo-os de solidificarem amizades no correr dos anos do “sistema seriado de ensino” que a dita “reforma” queria extinguir; e, de fato, a nossa foi a última turma do “seriado” na tradicional Faculdade de Direito do Largo da Trindade; os que vieram depois de nós, foram tocados feito gado para o campus do Guamá, então inaugurado).
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CLIQUE AQUI PARA LER A ÍNTEGRA DO ARTIGO do ex-procurador e advogado Luiz Ismaelino Valente, que sustentou uma amizade de 45 anos com a procuradora Graça Azevedo, que morreu tragicamente no final do ano passado e de quem ele foi a pessoa mais próxima no Ministério Público do Estado.
Belíssima amizade, belíssima homenagem. Parabéns ao ilustre baixoamazonense de Alenguer. Fico feliz por, em algum tempo, ter tido convivido com ele. Jorge Bastos
ResponderExcluirNão conheço os personagens, mas a homenagem foi emocionante.
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