sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

O índio é indolente


Por ANDRÉ COSTA NUNES, no Tipo assim... folhetim.

Está provado. Todo mundo sabe que o índio brasileiro é indolente.
Tem mais alguns adjetivos que parecem redundância, mas são bem pertinentes e enriquecem a tese.
O índio é vadio, preguiçoso, não gosta de trabalhar, aliás, o negro também é chegado ao ócio. E o branco, o amarelo, até o azul.
Eu também!
Quem simplesmente gosta de trabalhar é doente. A não ser que haja caído na velha falácia de Confúcio: escolha um trabalho que lhe dê prazer e nunca terá que trabalhar por toda a vida. Isto é conversa para filósofo rico. Pobre e vassalo não têm escolha.
Compreende-se que um professor, um jornalista, um médico, um artista, trabalhador intelectual – evidentemente, até por definição, elites da sociedade humana – sintam, eventualmente, algum prazer e muita realização no “trabalho”, mas isso nunca ocorrerá com o operário. É muito difícil sentir prazer em quebrar pedra, carregar tijolo, dirigir um ônibus no trânsito de Belém, capinar um roçado de mandioca em baixo de um sol escaldante, carregar e descarregar mercadoria nos armazéns e cais da vida. Empregada doméstica que dorme no emprego, então…
Isso, sem falar em trabalho escravo. Institucional, ou, não. Até ontem, o escravagismo era praticado em todas as nações do mundo. E era legal, ético e moral. Inclusive o tronco e a chibata.
De repente, como um axioma, determinou-se, não sei quando, nem quem, “que o trabalho enobrece e dignifica o homem”. Com certeza deve ter sido formulado pela classe patronal e por sua aliada natural, a religião. Qualquer uma.
Foi assim como uma lavagem cerebral histórica que permeou corações e mentes de toda a humanidade desde o começo dos tempos. Dogma.
Durante muitos anos lutei contra esse desígnio de uma força quase superior a mim.
Escondi ao máximo de todo mundo. E acho que o fiz tão bem que terminei convencendo as pessoas que eu era bom de trabalho e mesmo até gostava.
O pior é que o embuste me convenceu. Virei um viciado em trabalho. Um tal de “work-a-holic”. Fui além daquela história da mulher de Cezar às avessas: primeiro aparentar depois ser. Dizem que os paulistanos são craques nisso.
Demorou a cair a ficha. Foi quando resolvi contestar essa história de que o índio é preguiçoso.
Trabalhei como um mouro (!) por mais de cinqüenta anos. Poucas vezes tirei férias. E, nesses raros momentos de gozo, quando não estava porre, sentia-me como um estudante adolescente a gazetear aula. Culpado de alguma coisa.
Aos setenta e três continuo trabalhando, agora, como sempre, por necessidade de sobrevivência. A grande diferença é que não tenho mais que provar nada a ninguém.
Dane-se!

3 comentários:

  1. Quanta estultice em um artigo!

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  2. Saravá, Mestre André.

    Abração, Paulo.

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  3. Paulo, sempre os anônimos e porque o anonimato? Sei lá. Deve ser vício de origem e parteira. rs

    Abraço.

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