Nunca deixo de ficar impressionado quando leio reportagens sobre a China. Tudo o que ali acontece tem grande dimensão. Tenho observado também, a mídia se deter ultimamente na troca do futuro comando do país mais populoso e a segunda maior economia do planeta. Trata-se de outra cultura. O Império do Sol tem um pé no passado. Na zona rural e mesmo nas cidades, a China tradicional persiste.
Poucos chineses sabem muito sobre Xi Jinping. O provável futuro presidente herdará um país mais rico e mais desconfiado do poder central. A China que ele se preparou para governar tem sido ansiosa, enquanto o crescimento desacelera e as tensões políticas aumentam. A desigualdade crescente é um dos maiores desafios.
A preparação de Xi foi longa, começou num pequeno enclave aninhado em um rio entre morros cobertos por bambuzais, a aldeia de Xiajiang, na província de oriental de Zhejiang. As viagens de Xi para a aldeia fizeram parte de seu longo aprendizado para os cargos mais poderosos da China. Xi foi chefe do Partido Comunista em Zhejiang, de 2002 a 2007. O futuro presidente é herdeiro de uma família revolucionária. Seu pai, Xi Zhongxun, foi um dos camaradas de Mao Tsé-Tung. Desde 2007, quando Xi foi elevado ao comitê do bureau político, ninguém duvidou seriamente de que ele estava sendo treinado para o topo.
No 18º Congresso do Partido Comunista Chinês, que começou em 8 de novembro e deve durar cerca de uma semana, é uma conclusão antecipada afirmar que Xi será "eleito" para o novo Comitê Central do partido, de cerca de 370 integrantes. Ele se reunirá imediatamente depois do congresso para endossar uma lista de membros de um novo bureau político. O nome de Xi estará no topo, em substituição ao de Hu Jintao como secretário-geral. Ele também poderá ser nomeado novo presidente da Comissão Militar Central do partido, no lugar de Hu como comandante-em-chefe da China.
O discurso de Hu no 18º Congresso será, portanto, sua canção de despedida. Parte importante desse discurso é de proclamar o sucesso em empreendimentos, entre esses, o da quadruplicação da economia chinesa desde que assumiu em 2002, ele tem motivos para se gabar. No mesmo período, a China cresceu de quinto maior exportador do mundo para primeiro. Dará ênfase a reforma da estrutura política, muito importante para o país, questão essa vital para o partido, com potencial para causar o colapso não só do partido, mas também do Estado. Além do aprofundamento das reformas, o combate à corrupção que é muito difícil de combater, lá como cá.
Hoje, o povo sabe muito sobre autoridades chinesas, mais do que elas pensam. A mídia social, serviços semelhantes ao Twitter e ao Facebook (os quais são bloqueados na China) alcançaram extraordinária penetração na vida dos chineses de todas as camadas sociais, especialmente da classe média. O governo bem que se esforça para censurar a opinião dissidente online, mas a mídia digital oferece muitas brechas. Os microblogueiros chineses denunciam incansavelmente as injustiças e atacam os erros e abusos oficiais. Os comentários em microblogs compartilham o tom: uma profunda desconfiança do partido e suas autoridades. Conter essa maré de cinismo será um dos desafios de Xi.
Os próximos dez anos oferecem a "última chance" de reformas econômicas que poderão impedir que a China deslize para uma "armadilha da renda média", de crescimento seguido de estagnação prolongada. O mundo espera do novo governo, uma nova era para o Império do Sol.
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Sergio Barra é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
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