segunda-feira, 26 de novembro de 2012
Medo e intolerância
A violência no país continua tomando rumos assustadores. O confronto de bandidos com a polícia não é de agora. A população está com medo, em pânico, sofre de uma crise de melancolia, admite-se seu estado depressivo e uma espécie de exaustão moral. Convivemos com a recorrência de problemas que se arrastam, faz anos. Nos presídios brasileiros, as celas mais se parecem com pocilgas, incompatíveis com a dignidade humana e para piorar, o ócio, veneno que infesta a cabeça dos reclusos e ano pós ano fermenta o cognitivo pouco saudável da população carcerária com agitações quase febris.
Não adianta aspergir desinfetante nas sarjetas desses cubículos. Nossas autoridades apresentam vestígios de uma grande letargia. Não se observa nelas a menor tentativa de reformar os condenados e nem de reformar as penitenciárias. Há nos presídios muita promiscuidade (doenças venéreas contraídas uns dos outros), os policiais se corrompem entre si e os carcereiros têm medo dos prisioneiros. Há muito abuso e indisciplina entre os condenados. Os ultrajes e a intolerância tornaram-se reincidentes, tamanho era o terror que os inspirava. As prisões no nosso País têm péssima reputação e são protagonistas de muitas injustiças.
A população está apavorada, mas os excessos violentos nem de longe se compara a de uma década atrás. Em São Paulo, onde se concentrou a grande maioria dos atentados, o sentimento de terror não tomou conta de todos os bairros da cidade; em alguns, a rotina continua normal. Outra parte de São Paulo se sente, no entanto, sitiada, assustada, não sem razão, com a alta dos assassinatos. Pois bem, o Primeiro Comando da Capital (PCC) voltou.
A violência urbana a cada dia parece não ter limites. A intolerância está em todos os lugares, nos centros urbanos ou nas periferias. A grande novidade, até então, foi na pacata e tranquila Santa Catarina. De balneários e beleza natural para ninguém por defeito. A ilha de Florianópolis foi testada por uma série de atentados, ônibus incendiados por criminosos descontentes com a rigidez do sistema carcerário lançaram ataques inspirados pela ação do PCC. Não escaparam também cidades localizadas no continente: São José, Itapema, Blumenau, Itajaí, entre outras.
Hoje, o PCC carece do poder de fogo e da intelectualidade de Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola. Não é mais tão bem coordenado quanto era nas ações de 2006. Não há um comando unificado. Marcola perde terreno para duas novas lideranças que se projetam na clandestinidade para comandar o PCC: Roberto Soriano, o Beto Tiriça, e Abel Pacheco de Andrade, o Vida Loka –, o que estimula uma divisão entre os membros da facção que estão na rua.
Vida Loka é violento e menos estrategista e quer a continuidade dos ataques mesmo depois de a maior parte do bando ter recuado. Para piorar a situação, bandidos comuns, sem ligação com a facção, aproveitaram a onda de violência para eliminar desafetos e atribuir as mortes ao PCC. O grupo criminoso é um inimigo real, e não um grupo em processo de extinção, como alguns assessores do governo de São Paulo insistem em dizer.
O medo tomou conta dos paulistanos, que se refugiaram nas suas residências. O poder da facção não chega perto do de grupos criminosos do Rio de Janeiro, como o Comando Vermelho, o terceiro Comando e as milícias comandadas por ex-policiais. O preconceito e a intolerância são fatos inquestionáveis na história brasileira.
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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
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