segunda-feira, 19 de novembro de 2012
Emir Bemerguy, por seus filhos
Os textos abaixo foram lidos na missa de corpo presente em que Santarém se despediu do professor, poeta e escritor Emir Bemerguy, que faleceu na terça-feira feira passada, em Santarém, aos 79 anos de idade.
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CARTA AO PAI
Por Lila Rosa Bemerguy
Ao acordar na manhã de hoje, a primeira imagem que me veio foi vê-lo sentado na sala de casa, datilografando na máquina de escrever. Eras ágil, embora usasses para isso somente um dos dedos! O som da máquina é música agora. Quando sentavas ali, era como se entrasse num transe: não atendia chamados e ficava zangado com interrupções. As letras fluíam, eram parte do teu espírito. Coisa mais fácil era quando, na escola, o dever de casa era fazer um versinho pra mamãe: rapidamente, onde estivesses, nos dizia um novinho, feito na hora, que seria o melhor com certeza, dentre o de todos os coleguinhas. Fazias versos para aniversários, nascimentos, morte. Certa vez me deste uma pasta pra ler, com teus mais de 600 poemas. Fiquei surpresa porque ali conheci muito mais quem eras. Tua vida estava toda ali, rimada!
Nunca foste de muitos “nhenhenhes” conosco. Eras o pai à moda antiga. Presente, participavas da vida, mas deixavas essa outra parte para mamãe, que sabe como nunca fazê-lo! Porém, algo fizeste cujas marcas estão e estarão em todos nós. Deixaste um pouco do teu tesouro a cada um dos teus filhos. O teu exemplo como homem íntegro, honesto, que não tolerava mentiras e engodos, tua paixão pela música, que nos passava ao ouvir canções de Nelson Gonçalves, ao tocar violão e cantar, a fé em Deus, na Virgem Maria, o amor pela mamãe, manifestado em rosas que furtavas e colocavas sob a xícara que ela ia tomar café, com um versinho. Até a dureza das palavras quando nos corrigias, ficará na memória. Poderia ficar muito tempo lembrando de tantas outras coisas. Mas o tempo, esse “senhor dos destinos”, como disse outro poeta, passou. Tivemos o privilégio de conviver contigo por tantos e tantos anos. Ver-te envelhecer e morrer, como é o curso natural de pais e filhos. Seus netos mais velhos tiveram o privilégio de conhecer um avô terno, como era o teu pai conosco. O mais novinho, João, era nos teus últimos dias, o grande motivo para sorrires. Vou falar a ele do vovô, para que saiba quem fostes.
Até o fim, ainda me ensinaste. No leito do hospital, em meio ao desconforto que te acometias, querias dormir e me perguntaste: “posso fundear? ” E eu perguntei: “o que significa essa palavra”. E com dificuldade, a fala difícil, me explicaste: “É coisa de marinheiro. Significa prender o barco no fundo pra ele não andar”. Agora eu te digo: lança tuas âncoras, deixa a canoa parada, e fica em paz, pescando em outras águas, no céu, junto aos teus pais, mano Eros e mana Edith, tua filha Telma, o compadre Isoca e tantos outros amigos que prepararam uma festa cheia de música pra ti. Vai. Aqui ficamos, com saudades, mas imensamente felizes por termos estado contigo.
Da filha, Lila.
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MEU PAI
Por Lúcio Ércio Bemerguy
O que mais lhe agradou a alma, o coração?
O que diriam os amigos,
Qual sua visão?
A poesia!
Os mais apressados,
Certamente dirão.
E não lhes tiro a razão
Pois mais de setecentos poemas
Brotaram de sua inspiração,
Mas não foi isso não.
Lhes garanto, meus irmãos.
As pescarias!
Lembrariam outros.
Decerto, outra boa opção
Pois nos rios da Amazônia
Só não pescou tubarão.
Aquela ou esta opção,
São lógicas escolhas
E de fácil aceitação
Pois nos momentos difíceis,
Na luta diário do pão
Era nos rios e nos lagos
Ou com a caneta na mão
Que recuperava as forças
E renovava a disposição.
Nós, no entanto,
Filhos, netos, mamãe
Bem sabemos de outra,
Esta, a grande opção
O que mais lhe caracterizou a vida
É muito mais grandioso,
Estava no coração
Não foi poesia ou pescaria,
Não, não foi isso não
E agora, lhes digo então:
Era ser pai de família,
Ser honesto e cristão,
Ser instrumento de Deus
Operário da Evangelização
Fez isso todos os dias,
Diante de nossa visão
Com o auxílio da Virgem Maria,
A Senhora da Conceição!
Lindas homenagens, Mestre... lindas homenagens!
ResponderExcluirHomenagens comoventes, de arrancar lágrimas.
ResponderExcluirFoi-se o poeta de encontro ao Senhor, ficou sua imensa obra para gaudio eterno.
Segue a vida !