segunda-feira, 29 de outubro de 2012
Debates entre candidatos: o eleitor derrotado
Por CARLOS MENDES, jornalista
O formato dos debates políticos entre candidatos a cargo majoritário - e eu já disse isso várias vezes em debates na Rádio Tabajara, na companhia do amigo Francisco Sidou - há muito tempo está velho e exaurido. Não preenche as expectativas do eleitor no que poderia oferecer de melhor: o confronto de ideias e propostas. É um modelo engessado por critérios definidos de modo a proteger mais a emissora que o promove de eventual acusação de estar protegendo esse ou aquele candidato, que expor o lado contraditório e até insincero do próprio candidato no momento de expor-se diante do eleitor.
As regras de tempo para pergunta, resposta, réplica e tréplica parecem um autêntico pau de arara mental. Para proteger-se da faca no pescoço, a maioria dos candidatos não responde diretamente a nenhuma pergunta sobre o tema escolhido. Tergiversa, sapateia que nem catita, responde o que bem entende, ironiza o adversário e mistura temas. Enfim, enrola.
O adversário faz uma réplica em que tenta vender seu peixe, dizendo que fará melhor se for eleito e, na tréplica, o inquirido responde quase no mesmo tom, perdendo-se em considerações aleatórias. Na maioria dos casos, a frase fica incompleta porque o tempo estourou e o microfone foi cortado. Isto quando não tem no meio a habitual “pegadinha” para flagrar o adversário em contradição ou desconhecimento do assunto.
Outra falha do modelo arcaico: em nenhum debate, o mediador – que hoje limita-se a informar os temas sorteados e a conferir o relógio, assumindo um papel decorativo e sem nenhuma autonomia para corrigir a lenga-lenga – toma as rédeas para obrigar o candidato a responder sobre o tema proposto. E fica tudo por isso mesmo. Se o tema é saúde, o candidato começa falando sobre postos de atendimento e logo passa a falar de outros temas, misturando as bolas.
Diante da televisão ou do rádio, o eleitor fica entre perplexo e indignado, porque sente que os candidatos estão dentro de uma camisa de força, sufocados por regras estúpidas que ajudam a criar mais confusão na cabeça dele, deixando de esclarecer e orientar na hora da escolha do candidato.
Com temas limitados a um tempo curto, réplicas e tréplicas que não seguem linhas de raciocínio, os debates acabam se transformando em uma colcha de retalhos, com repetições de respostas e sem nenhum aprofundamento de ideias.
Temos, assim, em vez de um debate que poderia ser salutar para a democracia, um festival de divagações calculadas, onde o candidato só responde o que quer. Literalmente um palanque em que a coerência de ideias e de propostas – algumas francamente mirabolantes e incompatíveis com as disponibilidades orçamentárias – passa muito longe. No frigir dos ovos, restam discursos, na maioria vazios, para atingir as massas e fazê-las acreditar que o que foi dito será posto em prática caso o candidato seja eleito.
De resto, fica o alerta: ou mudam-se as regras dos atuais debates, ou a melhor solução para o público será utilizar-se do controle remoto para deletar o intruso que invadiu sua casa com ideias que não correspondem aos fatos.
Em outra oportunidade, apresentarei o formato de um debate que considero mais condizente com a realidade e as expectativas dos tempos que vivemos.
Irreprochável (ops!)seu comentário, meu dileto amigo, colega jornalista e companheiro de tantas jornadas na indomada tribuna do "Jogo Aberto", na Rádio Tabajara. De vez em quando, Mendes,sou interpelado nas ruas por amigos, colegas aposentados do Basa e cidadãos do povo sobre a volta da Rádio Tabajara. Todos me dizem que ela está "fazendo muita falta" pela maneira independente e livre com que eram abordados os temas de interesse público em seu jornalismo, notadamente no "Jogo Aberto" de todos os sábados. Razão lhe assiste, caro Mendes. Os debates na TV, pelo excesso de regras, se tornaram inodoros, assépticos e sonolentos. Na verdade, ninguém mais aguentava a mesma lenga-lenga , pois os candidatos ficavam engessados que nem bonecos robotizados, alguns só repetindo bordões, como aquele um do "eu sei como fazer"... e as propostas acabavam desfazendo-se quais coloridas e vistosas bolas de sabão...Agora resta esperar que o prefeito eleito pela soberana vontade da maioria do povo de Belém possa ir às baixadas em novas caminhadas antes de tomar posse e conversar com a população que sofre os efeitos danosos da falta de gestão pública nos últimos oito anos, principalmente. Que aplique com prioridade a sua política dos três SSS, mas sem esquecer também de soletrar outras letras do alfabeto das necessidades, como Educação, Calçadas, Lixo, Ratos, Trânsito, entre outras demandas de que a cidade se ressente.
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