quarta-feira, 5 de setembro de 2012
Dona Pêra: qual a relação entre o que ela mostra e o voto?
Olhem aqui.
Cada um é dono do seu nariz.
Cada qual faz de si o que quiser, como quiser, a hora que quiser, com quem quiser.
A vida privada é de cada um.
Mas a vida pública não.
Quando os aspirantes - mesmo eles - à vida pública se põem a degradá-la antes mesmo de ingressar no exercício de um mandato seja lá qual for, então temos o direito de refletir sobre o sentido da liberdade, quando posta a serviço do ridículo, do caricato, do deplorável, do vexatório.
Cliquem aqui. Vejam a foto.
Trata-se da cidadã Suelem Aline Mendes da Silva, uma tal Mulher Pêra, candidata a vereadora pelo PTdoB em São Paulo.
Vejam o que ela diz: "Sempre quando publicam minha foto, mostram apenas o meu rosto, mas eu sou a Mulher Pêra, sou conhecida pela minha bunda. Fiz essa foto apenas para divulgar o meu número".
Diz mais: "No corpo a corpo, as pessoas percebem que eu não sou mais apenas peito e bunda, que eu tenho cabeça também".
Fora de brincadeira.
De toda a brincadeira.
Mas isso parece brincadeira. E é.
Dona Pêra é dona de seu nariz. E de tudo o mais.
Ela deve fazer de si o que quiser, como quiser, a hora que quiser, com quem quiser.
No âmbito de sua vida privada, ela é senhora de si mesma.
Mas o simples fato de aspirar à vida pública deveria servir para conter-lhe os ânimos e apurar-lhe certos conceitos.
Por quê?
Porque, afinal de contas, ainda não está bem clara a relação entre os dotes de Dona Pêra e o voto.
Ainda não está bem claro a relação entre aquilo a que Dona Pêra dá realce e a qualificação para o exercício da vida pública.
Ainda não está perfeitamente estabelecida a vinculação irremovível entre dotes físicos e aptidão para representar os anseios populares.
Dona Pêra é o emblema, a representação, o monumento clamoroso a conceitos degradantes que a vida pública inspira.
É a representação do exotismo.
Sim, todos rimos dessas paradas.
Muitos de nós achamos engraçado.
Não raro, saudamos essas situações como uma homenagem à irreverência.
Pois é.
Por isso é que temos gente como Dona Pêra nas paradas.
Mas, sinceramente, nem tudo está perdido.
Basta repetir sua sentença: "No corpo a corpo, as pessoas percebem que eu não sou mais apenas peito e bunda, que eu tenho cabeça também".
Putz!
Fora de brincadeira.
Mas é brincadeira.
Infelizmente, tais excrescências são, no geral, muito bem recebidas pelos brasileiros, um povo cordial que jamais renuncia à alegria e ao oba-oba, mesmo quando está sendo assaltado.
ResponderExcluirSe tamanho (seja lá do que for) fosse importante, elefante seria dono do circo.
Kenneth Fleming
Muito bom o texto. Semana passada, fiz um também.
ResponderExcluir"A famosa expressão em latim reflete muito bem o que temos visto na música, esporte e política. Originalmente, era uma crítica a falta de informação do povo romano, que só queria comida e diversão. Vamos então aos fatos recentes: um famoso jogador de futebol (coincidência ser conhecido como Imperador) não treina, bebe bastante e depois pede desculpas; um cantor, filho de saudoso cantor de choros e sambas, afirmou em entrevista que todo mundo já fumou maconha uma vez na vida; uma mulher-fruta, candidata à Câmara de São Paulo, posta foto com o número de candidatura pintado na região glútea. Que belos exemplos! O jogador já poderia pensar em aposentadoria e assim curtir as farras e bebedeiras sem cobrança dos torcedores ou pedidos fúteis de desculpas. O cantor, que também disse ser a favor da liberação da droga, mostrou uma pseudoelegância ao afirmar que precisa ser feita com calma e organizada. A cidadã, que não é o fruto da pereira, conseguiu os 50 mil seguidores em uma rede social, mas será que a pose digna de revista masculina terá efeito em eleitores? É muito pão e circo."
Publicado no blog Um Homem de Família