quinta-feira, 2 de agosto de 2012

O mensalão revela as entranhas desta República

Marco Aurélio Mello: ele acha que o julgamento do mensalão deve ser como outro qualquer. Fala sério!
O Supremo começa a julgar hoje o caso do mensalão.
Hoje, por supuesto, não é um dia qualquer.
Porque o Supremo não é um tribunal qualquer.
E porque esse processo do mensalão não é um processo qualquer, data venia, mil datas máximas venias o ministro Marco Aurélio Mello, que, com aquele seu tom empostado, elevou sua voz para sustentar a patacoada de que esse caso, para a Corte, deveria ser como todos os outros.
O ministro, se não fosse ministro do Supremo, estaria brincando.
Como é ministro, deve ter falado sério. O que não impede que consideremos suas assertivas uma brincadeira.
Esse caso do mensalão revela as entranhas da República.
Desta nossa República nada republicana.
O mensalão exala as práticas dos porões, do arreglos, dos jeitinhos, dos interesses espúrios, do esconde-esconde de dinheiro contabilizado sob os vernizes do faz de conta.
Quando o então presidente Lula, sentado ao ar livre, num ambiente verdejante de Paris, disse em alto e bom o som o que o então ministro da Justiça, Márcio Tomaz Bastos - hoje, não coincidentemente, atuando no caso do mensalão -, o orientou a dizer, quando Lula, portanto, disse que o mensalão não passava de doações não contabilizadas de campanha, o famoso caixa 2, ali estava uma proclamação formal e histórica de que a política brasileira se faz conhecer nos covões.
E nas estranhas, e não à luz do Sol, que se conhece a política brasileira.
Covões, o plurão de covão, tem aqui a mesma acepção de fossos, poços, valas, porões e coisa parecida.
Nesses ambientes, caixa 2 é coisa pequena, banal, desprezível.
É crimezinho.
É coisa de somenos.
É coisa desimportante.
Lula, em outras palavras, disse o seguinte: "Nós [não propriamente os petistas, mas os condestáveis da política] não nos rebaixaríamos a tanto. Ficamos sempre nos limites da sarjeta. Dai pra baixo nós não ousamos ir. Nossos limites vão até o caixa 2. E daí não passamos".
A Procuradoria-Geral da República foi ver melhor.
Encontrou coisas abaixo dos covões, das valetas, dos poços.
Encontrou coisas abaixo das sarjetas.
Descobriu o Ministério Público, curiosamente, que o mensalão nunca existiu.
Porque não existe, é claro, a figura do mensalão como categoria penal.
Existe, sim, lavagem de dinheiro.
Formação de quadrilha.
Peculado.
Gestão fraudulenta.
São essas condutas a que respondem os 38 réus, que a partir de hoje, e provavelmente pelos próximos 30 dias, vão a julgamento no Supremo.
São culpados?
Não sabemos.
São inocentes?
Não sabemos.
Precisamos, por isso, deixar que o Supremo julgue.
Tranquilamente.
Independentemente.
Tecnicamente.
E conscientemente.
Mas, certamente, o processo do mensalão não é um caso qualquer.
Quem achar que é não conhece os porões da República brasileira.
Ou então acha que estabelecer limites para a prática de crimes - como não ir além do caixa 2, por exemplo - é ato tão edificante que justificaria até erigir-se uma estátua à honra de quem fizesse tal opção.
Putz!
Esse é o Brasil do mensalão.
Sem tirar nem pôr.

Um comentário:

  1. Anônimo2/8/12 14:59

    Gostaria de saber se após todos estes anos e o custo desse julgamento alguém será enviado para alguma penitenciária ? Caso contrário, isso apenas corrobora com a máxima no exterior de que o Brasil não é um país sério. Pelo menos na questão dos engravatados. É só fazer um levantamento nas penitenciárias deste país. Quantos políticos que usaram o meu e o seu dinheiro estão presos junto aos outros malfeitores ?? Alguém já disse que as leis no Brasil são como teias de aranha: só alcança os pequeno bichos (insetos), os grandes arrebentam e escapam. É ou não é ???

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