segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Às vezes, a derrota abre caminhos


Incrível como no Brasil a capacidade de se colocar sujeira debaixo do tapete parece ser infinita. Isso, fundamentalmente, acontece na política. Vivemos no País da piada pronta. É algo que enoja e que, infelizmente, parece que não mudará tão cedo, enquanto aceitarmos tudo sem agir. Enquanto o sistema político só tem olhos para os recentes atritos entre o PT e o PSB, as eleições municipais avançam, tensionando toda a estrutura partidária. De quatro em quatro anos, a cada vez que chega a hora de renovar a política local, isso acontece.
Por diversas razões. A mais importante é que a escolha de prefeitos e vereadores tem consequências diretas nas eleições para o Legislativo. Fortalecer-se nas cidades antecipa dias de glória para os partidos. Já se foi o tempo em que bancadas estritamente "localistas" dominavam o Congresso. Era a época em que quase todos os deputados e mesmo alguns senadores tinham uma base eleitoral bem demarcada em termos geográficos. Sua votação concentrava-se em alguns municípios, frequentemente contíguos. Sem eles, não se elegem.
Era uma "questão de ordem", esses parlamentares estabeleciam uma relação de simbiose com as lideranças políticas de "suas" cidades. Na hora da eleição legislativa, prefeito e vereadores endossavam a candidatura do deputado e faziam a sua campanha, em troca do compromisso de representar a cidade no plano estadual e nacional, e buscar recursos para ela. Dois anos depois, quando chegava a eleição municipal, o parlamentar indicava seus candidatos, apresentando-os como responsáveis por tudo de bom que houvesse acontecido na cidade e ameaçando os eleitores com prejuízos se não vencessem. Era "toma lá dá cá".
Ademais, hoje, o tamanho das bancadas eleitas por esse mecanismo diminuiu. Mas elas continuam a existir. A ponto de alguns estudos sugerirem que a doação do voto distrital não alteraria drasticamente o perfil da Câmara, tão expressiva é a parcela de deputados que provém de distritos informais. Como se sabe, boa parte do chamado "baixo clero" chega assim ao Legislativo. E é fundamental na formação de maiorias quando matérias polêmicas são votadas.
Contudo, apesar da insistência na discussão da "crise" entre PT e PSB, fenômenos parecidos estão acontecendo esses dias nas relações do PSDB com seus irmãos menores, o DEM e o PPS. Para não falar na briga do PSD com os tucanos em algumas cidades, especialmente em Belo Horizonte, onde o DNA serrista do partido o levou à oposição contra Márcio Lacerda (PSB), que tem o apoio de Aécio Neves. No tabuleiro de BH é Aécio quem manda. O senador será candidato a presidente da República em 2014. Os aliados bradam, é o destino. Ele se preparou a vida inteira para isso, insinuarão os desafetos de José Serra, no PSDB.
Por outro viés, Aécio implodiu a aliança entre PSDB e o PT que, em 2008, elegeu Lacerda à prefeitura de BH. Lacerda é um trunfo político de Aécio no jogo nacional. Se Lacerda for reeleito para a prefeitura de BH, disputará o governo do estado em 2014, com Aécio na competição para a Presidência. Em razão disso, a eleição de agora na capital mineira ganha mais importância. Talvez até maior que o confronto na capital paulista.
Hoje, pesquisas de intenção de voto, com variados cenários, indicam Dilma com índices acima de 60%. Serra alcança 15% e Aécio com 10%. Mesmo com a derrota, em 2014, servirá como plataforma para a consolidação e a projeção nacional do nome dele para a etapa seguinte. Em 2018, o "predestinado" mineiro terá mais chances. Entre políticos é "cada um por si e Deus por todos!" Em primeiro lugar, todos pensam em si mesmos.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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