segunda-feira, 23 de julho de 2012

O “Corredor Polonês”


Os termos rígidos do Tratado de Versalhes, de 1919, que levou à conclusão da Primeira Guerra Mundial, causaram um ressentimento duradouro na Alemanha. O tratado foi o responsável pelo redesenho da Europa central de maneira dramática. A Alsácia e Lorena (conquistadas pela Alemanha em 1871) foram devolvidas à França, e uma área alemã com grande concentração de minas de carvão, SAAR (ou Sarre), ficaria sob supervisão da Liga das Nações por 15 anos. A área da Renânia também permaneceria ocupada por tropas Aliadas por 15 anos antes de ser desmilitarizada.
As mudanças territoriais mais importantes, no entanto, foram no leste: a Polônia reapareceu no mapa da Europa, reconstruída com terras tomadas tanto da Alemanha quanto da União Soviética. A perda mais polêmica para a Alemanha foi a do “corredor polonês”, uma faixa de terras etinicamente alemãs entregue à Polônia para permitir acesso ao mar báltico, o que foi considerado necessário para a sobrevivência do novo Estado.
O Porto de Danzing se tornou uma cidade livre sob o controle da Liga das Nações, garantindo o acesso da Polônia. Dessa forma, a Alemanha perdeu uma grande porção de seu território; no entanto, a maior parte de sua população central e do seu potencial econômico permaneceu intocada. A Alemanha ainda era a maior potência do continente e perdia apenas para a União Soviética em termos de tamanho da população.
Mas, uma aura sombria pairava sobre a Europa. Apesar do fato de que todas as nações do mundo – mais notadamente os Estados Unidos – lutavam para salvar a situação econômica da Europa pós-guerra, os estragos feitos pela primeira Grande Guerra aparentavam ser grandes demais. A economia alemã enfraquecida pela hiperinflação não se recuperou totalmente das privações impostas pela Grande Guerra.
Em outubro de 1929, a quebra da bolsa de valores norte-americana deu início a uma série de eventos que causou a Grande Depressão. Desemprego, pobreza e fome varreram o mundo. Na Europa, o colapso econômico causou uma explosão de apoio a partidos radicais dos dois extremos políticos, incluindo tanto fascistas quanto comunistas.
Entre 1935 e 1939, a série de sucessos da política externa de Hitler não apenas solidificou seu poder na Alemanha, mas também levou a Europa para as portas de um segundo conflito mundial. A ascensão da Alemanha das cinzas começou quando o Sarre decidiu em plebiscito voltar a ser território alemão, em 1935. Em 1936, Hitler mandou seu recém-criado exército para a região do Reno.
Contudo, as terras alemães perdidas no oriente eram há muito tempo motivo de discórdia, em particular o “corredor polonês” e a cidade portuária de Danzing. O assunto gerava conflito há anos, mas a crise apenas estourou no verão de 1939. A Polônia recusou as exigências alemãs na área, em parte devido ao medo da reação soviética se as concessões fossem atendidas – uma tentativa de se equilibrar na linha tênue da neutralidade entre as duas potências.
Convencido de que a Inglaterra e a França não interfeririam, Hitler começou a fazer planos de invadir a Polônia. E mesmo que os Aliados do ocidente guardassem as fronteiras da Polônia, Hitler acreditava que eles não iriam lutar. Depois de assinar o Pacto de Não-Agressão com a União Soviética, Hitler tinha certeza de que a tomada das terras perdidas para a Polônia com o Tratado de Versalhes não encontraria oposição das grandes potências. Dois dias depois, para a surpresa e a considerável irritação de Hitler, a Inglaterra e a França declararam guerra, marcando o início da Segunda Guerra Mundial na Europa.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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