segunda-feira, 2 de julho de 2012
Crepúsculo violento
Não se trata de uma janela para o passado. Ou seja, a Primavera Árabe, nome dado à onda de protestos e revoluções contra governos do mundo árabe, Oriente Médio e norte da África, que eclodiu em janeiro de 2011, clamando por democracia, parece estar, ainda, longe de florescer definitivamente. O caminho para a liberdade no mundo árabe tem sido tortuoso e sangrento. Há mais de um ano, por exemplo, a Síria tem destaque nas manchetes internacionais. Desde março de 2011, os sírios estão nas ruas, em protesto, buscando a sonhada democracia, em contrapartida à ditadura militar que já dura mais de quatro décadas.
Os protestos civis que exigiam, sem demora, a saída do ditador Bashar Al-Assad, começaram no sul do país, na cidade de Daraa, e se espalharam rapidamente por toda Síria. A resposta do governo foi violenta e impiedosa, mas causou efeito contrário! Ao invés de recuar, o levante cresceu. A crise começou a preocupar o mundo no momento em que enveredou por vias bélicas, com a criação do Exército Livre da Síria (ELS) que, inicialmente rebelde, teve suas fileiras encorpadas em proporções exponenciais por desertores do Exército sírio e voluntários sedentos de mudanças. Desde então, os confrontos contabilizam milhares de mortes.
As hostilidades e repressões internas há muito se fazem presentes. As respostas do governo sírio a qualquer manifestação civil que desafie o poder da dinastia Assad não surgiram com a Primavera Árabe. Desde a tomada do poder por Hafez Al-Assad, pai do atual presidente, em 1971, os distúrbios internos foram fortemente reprimidos, causando milhares de mortes. Em fevereiro de 1982, por exemplo, quando Al-Assad pai ainda se encontrava na presidência, aconteceu o massacre de Homs, quando a cidade foi bombardeada pelas Forças Armadas sírias em represália a uma revolta popular comandada pela Irmandade Muçulmana, depois banida pelo país pelo próprio presidente Hafez.
Ademais, apesar de toda a oposição interna e as sanções externas que enfrenta, o presidente Bashar Al-Assad não parece disposto a se aposentar nem de ser derrubado por seus conterrâneos. Aparentemente, tem motivos para se sentir seguro no poder. A estrutura política da Síria é um fator determinante para a manutenção do poder do atual governo sírio. Ele ocupa o cargo desde 2000, pertence ao único partido permitido no país, o Baath, que lhe dá total sustentação política.
O poder bélico da Síria não dá para comparar ao de outros países participantes da Primavera Árabe. Além disso, a Síria desde o início da dinastia Al-Assad, mantém estrutura militar organizada, com uma estreita hierarquia militar, plano de carreira e outras benesses. Extremamente dependentes do presidente, as forças militares trabalham em conjunto com os órgãos de segurança onipresentes em todas as camadas da sociedade síria.
Segundo um relatório do Instituto Internacional de Estocolmo para Pesquisas da Paz, o fornecimento de armas para a Síria, cresceu quase 600% no período de 2007-2011 e sua principal fornecedora é a Rússia.
A geopolítica da Síria é mesmo delicada! Os conflitos na região envolvem Bahrein, Iêmen, Tunísia, Líbia, Egito, e recentemente, a Turquia. O país tem afinidade declarada com o Irã, repleto de celeumas internacionais e suspeito de ter armas nucleares. Além disso, a Síria tem grandes distúrbios com Israel. Nenhum analista político arrisca suas fichas em uma solução em curto prazo para Síria. O futuro é incerto.
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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
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