Lula e Maluf (entre eles Haddad, que parece se divertir), em 2012: esqueçam o que eles disseram |
Ana Júlia e Almir Gabriel, em 2010: esqueçam o que eles disseram |
Maluf e Fernando Henrique, em 1998: esqueçam o que ele, FHC, escreveu. E dos abraços que deu. |
Ao mesmíssimo saco.
Políticos, diz o povo - essa entidade tão abstrata quanto real -, são farinha do mesmo saco.
São?
Lula tem sido, nos últimos dias, massacrado porque, ao selar sua aliança com Maluf, tirou um foto cumprimentando-o.
E aí?
E aí que, foto por foto, todos têm as suas.
Às vezes muito comprometedoras.
Outras vezes, nem tanto.
Às vezes, desmoralizantes.
Outras, nem tanto.
Às vezes, inexplicáveis.
Outras, nem tanto assim.
O juízo é de cada um.
A farinha, cada um escolha a sua.
Fernando Henrique Cardoso, por exempo.
Ele também tem sua foto, trocando um caloroso abraço com Maluf, após se reeleger, em 1998, com o apoio malufista.
O tucano, quando fundou o PSDB, fê-lo não apenas porque qui-lo (janiamente falando), mas para demarcar claramente onde terminavam princípios éticos meio, digamos assim, movediços e onde começava o início de depurações éticas até então inauditas - ainda que relativizadas pelas armadilhas da política.
De FHC, socorram-se do "esqueçam o que escrevi". E esqueçam dos abraços que ele deu. Melhor assim.
E por aqui?
A mesma coisa.
Nas eleições de 2010, Ana Júlia Carepa, então candidata à reeleição, surpreendeu meio mundo ao aceitar, com o coração encharcado de emoção, o apoio do tucano Almir Gabriel.
Almir, ressalte-se, não é Maluf. E vice-versa.
A surpresa da aliança está no que ela dizia dele e ele dizia dela.
Na marcha dos tempos, diziam assim.
Da então senadora Ana Júlia Carepa, em discurso no Senado, em 23 de abril de 2004:
“O massacre de Eldorado de Carajás deve ficar na lembrança como um exemplo de como não se pode aceitar a brutalidade e a repressão contra movimentos sociais que em última análise, com seus erros e seus acertos, são produto de décadas da ausência de medidas efetivas de inclusão social e diminuição das desigualdades, que nunca serão supridas pela violência, venha de onde vier.”
De Almir para Ana Júlia, em 29 de outubro de 2006:
“Isso é desculpa de perdedor. Na verdade ela sabe que o nosso grupo é de pessoas sérias, honestas. Nós não entramos nesse jogo, queremos a democracia reafirmada. A bandalheira não serve à democracia. Nós queremos a construção de uma democracia séria, correta, e não uma democracia podre, safada. Então não adianta vir com essa conversa fiada.”
Ah, sim.
Ana Júlia também se elegeu com o caloroso apoio de Jader Barbalho, o mesmo que a apoiou pelo menos durante os três primeiros anos de governo.
Jader, vocês sabem, era execrado pelo PT local como uma espécie de Maluf ao tucupi. Mas os tempos mudam. E o PT muda mais rápida e surpreendentemente que os tempos.
E Lula?
Se FHC investiu no "esqueça o que escrevi", Lula, na oportuna observação de Ancelmo Gois, investe no "esqueçam o que eu falei".
E o que Lula falou de Maluf?
Falou assim, em março de 1993:
“Maluf esquece de seu passado de ave de rapina. O que ameaça o Brasil não são nuvens de gafanhotos, mas nuvens de ladrões. Maluf não passa de um bobo alegre, um bobo da corte, um bufão que fica querendo assustar as elites acenando com o perigo do PT. Maluf é igualzinho ao Collor, só que mais velho e mais profissional. Por isso é mais perigoso.”
E o que Maluf falou de Lula?
Falou assim, em resposta, também em março de 1993:
“Ave de rapina é o Lula, que não trabalha há 15 anos e não explica como vive. Ave de rapina é o PT, que rouba 30% de seus filiados que ocupam cargos de confiança na administração. Se o Lula acha que há ladrões à solta, que os procure no PT, principalmente os que patrocinaram a municipalização do transporte coletivo de São Paulo”.
Olhem só.
No frigir dos ovos, todas as fotos levam ao mesmo saco.
Escolha a sua.
E faça um bom proveito.
Com ou sem farinha.
No Brasil, a direita absorveu a esquerda.
ResponderExcluirE não cola mais o discurso de que a responsabilidade pelo nosso atraso é culpa das elites, do capital transnacional, etc.
A esquerda brasileira acomodou-se no regaço do capital e lá ficou, gostosamente embalando-se numa rede.