segunda-feira, 25 de junho de 2012
Europa: República de Weimar
A crise europeia é uma questão que parece não ter sido bem entendida. É apontada como centro de desequilíbrios e de uma região em decadência. O desdobramento da crise mostra que um pequeno problema na Europa pode transformar-se num problema global. Parece que há uma desorientação generalizada. Vencer essa crise é uma proeza. Talvez, o maior desafio de que se tem notícia. Alguém precisa escutar os sinais. Acabar com essa história de compartilhar a cultura da culpa.
Em 1918, uma sucessão de revoltas operárias precipitou a abdicação de Guilherme II e o estabelecimento do regime republicano. No final da Primeira Guerra, a Alemanha estava arrasada e o seu povo humilhado. Pelo Tratado de Versalhes, assinado em junho de 1919, as potências aliadas impuseram-lhe condições draconianas. Nestas condições surgiu a República de Weimar, assim chamada, pois a sua constituição foi assinada em Weimar (uma cidade da Saxônia). Esta frágil república, surgida das cinzas da guerra e do império, num país sem tradições democráticas, enfrentando uma inflação galopante e uma crise econômica agravada em 1929 pela Grande Depressão. Contou, desde o início, com a feroz oposição de grupos extremistas, principalmente os nacional-socialistas (que denunciavam a assinatura dos Acordos de Versalhes como uma traição do governo social democrata) e com a desconfiança e cepticismo da população em geral.
A derrocada da República de Weimar começou com o crash da bolsa de Nova York e a crise econômica mundial de 1929. A história dos anos seguintes foi marcada pela ascensão, nas eleições de 1930, dos nacional-socialistas que se aproveitaram do desemprego (4,4 milhões em 1930) e da miséria geral. Em 1932, quando os desempregados somavam 5,66 milhões, o marechal Hindenburg foi reeleito presidente, ficando Hitler em segundo lugar. Em janeiro de 1933 o marechal Hindenburg chamou Hitler para encabeçar o novo governo.
Nos anos 1990, o chanceler Helmut Kohl, prometeu uma Alemanha voltada para a Europa, não uma Europa alemã. Os alemães e os bancos não aprenderam as lições dos anos 1930 e deixam o continente à beira do caos. Angela Merkel trabalha num projeto perigoso, enfraquecer o compromisso europeu dos alemães. Sob o ponto de vista da história, é triste ver que nesta crise está uma chanceler que não gosta da Europa.
Mais uma vez, as medidas contra a crise são insuficientes e tardias. E não sobrou espaço para errar. Irritado com a apatia da Europa, Barack Obama tornou pública a pressão sob Angela Merkel, falando a uma conferência de imprensa para pedir à Europa ações "decisivas para estabilizar seu sistema financeiro e agir tão cedo quanto possível para injetar capital nos bancos fracos". Foi secundado pela chefa do FMI, Christine Lagarde que disse: "A Europa tem três meses para salvar o euro". Os neonazistas gregos mostram o que o fracasso poderá significar.
Em nome do interesse nacional as regras que tratam igualmente os desiguais e posar como "uma nação iguais às outras", a Alemanha impõe décadas perdidas aos países da periferia europeia. Exige que cortem gastos públicos, benefícios trabalhistas e salários para engordar um setor financeiro insaciável e ajustar sua competitividade a uma política monetária que hoje só atende aos interesses alemães.
Enquanto isso, a crise tende a fazer da Europa outro Nafta: A Alemanha assume o papel dos EUA e os PIIGS o do México e Caribe. No mais, sem mudança de rumo, a teimosia alemã fará da Europa uma grande República de Weimar.
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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
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