Do professor Cássio de Andrade, sobre a postagem Ex-superintendente da Curro Velho é encontrado morto:
Valmir, presente!
Em nossa tradição, costumamos ratificar presenças, ante a ausência de um companheiro. Essa atitude traduz nossa rebeldia em não aceitar o determinismo da morte. Por sabermos inexorável, ousamos desafiá-la pelo gesto infame da coragem e da persistência, uma ode à vida na última trincheira da memória. Não aceitamos a dor da partida, pois amamos a vida e a permanente possibilidade de transformá-la.
Valmir, presente!
Não aceitamos a circunstância sombria da tua partida, qual seja, posto que tua presença mantenha a memória, ainda que doa a alma rediviva. Uma geração te é tributária: àquela que, junto aos teus pares, aprendeu a lutar pela meia passagem nas ruas de Belém. Dos passes aos cartões magnetizados, dos chips inteligentes em voga, estão ali as marcas principais de tuas pegadas. Não! Não aceitamos.
Com tua geração, nós, oitocentistas, passamos a dizer NÃO: à ditadura, aos coronéis, aos tubarões do transporte, aos conservadores, aos hipócritas, aos reitores das baionetas, aos coveiros da poesia e dos sonhos.
Minha geração oitocentista é posterior pouca coisa à tua.
Não partilhávamos dos mesmos métodos e das mesmas experiências de luta, mas comungávamos na renovação da esperança pelo mundo novo. Recordo dos gritos histéricos da direita renitente em conluio aos arautos da verdade, no Congresso da UNE de 1988, bradando os impropérios das falanges, e você, ali entre resoluto e paciente, esperando a malta acalmar. Assim era Valmir: moderação e rebeldia no corpo frágil da coragem.
Valeu, Valmir. Essa luta não foi em vão. Em outras trincheiras de luta, agora pela arma da cultura e pela defesa dos povos indígenas, lá estavas a tecer armas. Tua partida tira um pouco a alegria da vida, do brilho, do doce deboche, mas memória não morre.
Valmir, presente!
Cássio, conseguiste sintetizar o sentimento de toda a nossa geração oitentista pela perda inexorável de nosso camarada.
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