segunda-feira, 23 de abril de 2012
Trombeta da hipocrisia
Como compreender um dos fenômenos que mais incomoda o cidadão brasileiro: a corrupção. Para quem não aguenta mais a maneira infantil e rasa com que o assunto costuma ser tratado pela mídia “inocente” e por algumas “fortalezas” acadêmicas consideradas bem-pensantes. Revista de circulação nacional avalia em pesquisa de opinião que os brasileiros acham a corrupção como muito grave, mas essa percepção não parece pesar na hora do voto. O imaginário e atenção precisam estar geminados.
O pano de boca caiu. É escândalo atrás de escândalo. Ao longo de nove anos no Congresso Nacional, o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) notabilizou-se por não dar trégua à corrupção. Nem aos corruptos. Nem aos amigos dos corruptos. Ex-promotor de Justiça, ex-delegado e ex-secretário de Segurança Pública de Goiás, Torres sempre se mostrou inflexível com o crime. Dele, portanto, não se esperava outra coisa senão distância de criminosos e corruptos. Mas a força desse mito desmoronou em 29 de fevereiro passado, quando aconteceu a Operação Monte Carlo, da Polícia Federal. Naquele dia, a PF desmontou uma quadrilha que atuava no ramo ilegal da jogatina e prendeu, em Goiânia, o famoso bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, o contraventor, quem diria, é um amigão do senador linha-dura.
O senador tem dificuldade em explicar sua amizade com o bicheiro. Torres é uma figura mais emblemática do que ele próprio imagina. Essa derrocada que sofreu, após assumir o papel de guardião da moral pública, tem sido típica da oposição conservadora a mais de meio século. Caso houvesse um lema na bandeira desses oposicionistas, ele seria composto de duas palavras: “Moralidade e Legalidade”, e poderia ser alcunhado imediatamente de “Pavilhão da Hipocrisia”.
Existe um discurso udenista, hipocritamente moralista e legalista, que assombra a democracia brasileira desde a fundação, em abril de 1945. Na esteira da participação militar do País na Segunda Guerra Mundial, o Brasil vivia um momento histórico, no mínimo ambíguo. Por um lado soldados brasileiros lutavam na Itália ao lado dos Aliados, os quais justificavam sua participação na guerra contra Hitler como sendo a defesa da própria democracia. Por outro, o País vivia um regime que poderia ser tudo, menos democrático. Os udenistas encarnaram o papel de principal oposição ao Estado Novo. Muita gente, à esquerda e à direita, foi presa e sofreu no cárcere. Não se sabe, no entanto, de nenhum udenista preso ou torturado durante o regime varguista.
Na genética da UDN, além de uma ideologia que varia do conservadorismo ao reacionarismo golpista, consta também a célula de rejeição ao que de melhor fez o ex-presidente Getúlio Vargas. A construção das bases do moderno Estado Nacional e das regras de proteção dos trabalhadores. Principalmente por essas decisões Vargas pagou com o suicídio, em 1954, quando o arauto da oposição era Carlos Lacerda. Ao segurar o pavilhão da moralidade quando criou a expressão “Mar de Lama”, que supostamente corria sob o Palácio do Catete.
Em 1960, os udenistas ganharam e eleição presidencial na garupa da vassoura do tresloucado Jânio Quadros. E todo mundo sabe no que deu. O udenismo chegou ao poder em 1964. Dessa vez a reboque dos militares, com a deposição de João Goulart. A legalidade udenista abriu caminho para uma ditadura que durou 21 anos. Os conservadores de agora perderam a bandeira da moralidade sustentada pela hipocrisia de Torres. Com que pavilhão eles vão à luta eleitoral?
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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
É o que se chama: "pecado do padre" , portanto inaceitável
ResponderExcluirDevo crer que eles irão com o mesmo pavilhão que prosseguiram anteriormente, é inutil pensar que os "não oposicionistas" fizeram diferente! Oras! Lula mesmo proferiu que o mensalão só iria se julgado em 2054, pow não era ele quem discursou que o mensalão seria terminantemente combatido, mesmo ele "não sabendo" de nada! Bom o operário, hoje paciente, tem um filho que banca 80% de um campeonato de futebol americano no Brasil!!! em bom belenês: eras meu... tem imprensa "inoncente" e blogueiro na atividade de "isentar-se" de opinião de forma mal sucedida!!
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