sexta-feira, 30 de março de 2012
Atropelamentos de ciclistas
O trânsito brasileiro é uma máquina de matar, capaz de superar guerras. Agora, ganha destaque o atropelamento fatal de ciclistas, seja na avenida Paulista, seja em qualquer lugar. Há alguns dias, Thor Batista, filho do empresário Eike Batista, envolveu-se no acidente que matou Wanderson Pereira da Silva, no Rio de Janeiro. Enquanto se discute se a culpa foi da vítima, o certo é que mais uma vida tomba neste sangrento chão do Brasil.
Quando cidades crescem sem planejamento, é esperado todo tipo de conflito no tráfego de pessoas. É o caso de Belém. Sua população multiplicou-se absurdamente, sem o equivalente investimento do poder público. Faltam ciclovias, acostamentos e fiscalização. Falta investimento em educação do trânsito. Falta todo um conjunto de obras para atender à demanda populacional. É impressionante a inexistência de uma ação pública diária e contínua.
O trecho ao redor do Terminal Rodoviário é um exemplo do descaso. Ali, é um convite ao atropelamento. Pessoas arriscam a vida para atravessar a avenida Cipriano Santos e a praça do Operário. O que fez o governo nas últimas décadas, em termos de sinalização e obras naquele perímetro? Vou responder: mandou pintar uma faixa de pedestre na esquina da Almirante Barroso, justamente no meio do inferno, numa curva perigosíssima. É como se dissesse às pessoas: “Venham! Atravessem aqui para morrer!” Uma brincadeira de muito mau gosto com a população.
No meio da confusão, ciclistas, pessoas que usam esse meio de transporte para ir ao trabalho. Expostos, sem direito algum. Cada dia é uma aventura de sobrevivência. Francamente, fico indignado. Em Belém, o progresso vem à marcha-ré. A gente visita outras capitais, e fica pasmo pelo contraste. Estive recente em João Pessoa, encontrei um trânsito muito mais organizado. Fiquei impressionado porque durante aquela semana não escutei ninguém buzinar. Aliás, a fama do trânsito de Belém chegou ao sertão. Na capital paraibana, quando se ouve uma buzina, comenta-se: “Esse é de Belém!” Foi essa piadinha que ouvi na estrada até o aeroporto de Recife. Na ida e na volta. E nos deslocamentos diários.
Porém, ninguém buzina porque gosta. O buzinaço diário de Belém é uma sirene de emergência, avisando às autoridades que o nosso trânsito está muito mal, quase morrendo. Será que ninguém ouve? Será que os carros blindados das autoridades são à prova de som? Ou será que os dignitários nem moram mais na cidade? Sei lá. Meu voto nunca terão! Terão a minha voz para engrossar o grito de protesto. Buzinar? Não, só raramente. Tem uma rua inteira para buzinar por mim. Meu protesto é feito de palavras.
A morte de ciclistas em Belém é um dado concreto. Augusto Montenegro e Pedro Álvares Cabral estão no topo. Qual o compromisso de nossas autoridades? Por que a estrada de Icoaraci continua daquele jeito? Por que não se sinaliza a cidade? Por que não se olha para espaços críticos de Belém, como o entorno do Terminal Rodoviário, construindo plataformas de pedestres, sinais apropriados e disponibilizando agentes para organizar o trânsito?
Quando olho a massa humana atravessando as tristes esquinas de Belém, sinto pena do povo. Quando vejo pessoas se acotovelarem num pedacinho de calçada velha, esperando o sinal verde, vejo quanto somos enganados em tempos eleitorais. Afinal de contas, se a população triplicou, os cofres públicos também estão mais cheios. Toda essa gente paga tributo. Tributo para quê? Para quem?
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RUI RAIOL é escritor
www.ruiraiol.com.br
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