sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Sinalização de faixas de pedestres


Há uma grande diferença entre o céu de Belém e o seu chão, em matéria de trânsito. E essa diferença não é apenas de volume de tráfego. Sobretudo, é pela desordem do que acontece aqui embaixo no solo. Há poucos dias participei de um seminário sobre sistemas de proteção de voo. Veio a Belém o chefe do órgão da Aeronáutica que cuida dessa área. Fiquei impressionado pela ordem do trânsito aéreo. Ao mesmo tempo, enxerguei o contraste entre esse avançado mundo de transporte, estranho ao gênero humano, e o que acontece sobre a superfície da terra. Não obstante a locomoção em solo seja coisa de nosso domínio, é onde a morte mais prevalece. Mas, vou deixar o desenvolvimento desta linha de raciocínio para um próximo artigo. Hoje, vou falar de um ponto específico do trânsito de Belém: a questão das novas faixas de pedestres, onde a travessia depende de um ato voluntário dos condutores.
Foi a revitalização da Duque de Caxias que inseriu esta novidade no trânsito de Belém. No princípio, assustou muita gente. Sem uma campanha de esclarecimento e conscientização suficiente, de repente, lá estavam algumas linhas paralelas brancas sobre o negro do asfalto. De repente, como se essa questão de consciência não resultasse de um processo educativo, motoristas e pedestres tinham novos direitos e deveres. Uma importação de cultura, sem manual traduzido, fora de nosso ritmo de cidade cabocla.
Depois da pioneira Duque, as faixas voluntárias foram multiplicando-se. Seguindo o exemplo das antigas lombadas, começaram a surgir em vários pontos da cidade, geralmente em locais de grande fluxo. O curioso, porém, é que essas pinturas não parecem obedecer a algum estudo técnico e quase a totalidade está desprovida de sinalização vertical ou luminosa. Vamos ver dois exemplos.
Uma das faixas mais intrigantes fica na esquina da Cipriano Santos com a Almirante Barroso. Francamente, não consigo entender por que foi desenhada ali. A marcação está num perímetro caótico. Ônibus, motos, vans e bicicletas amontoam- se. E, agora, legitimados por aquela faixa sinistra, pedestres expõem-se ao risco toda hora. Curiosamente, há um semáforo um pouco mais à frente. Por que não valorizá-lo, preparando a calçada, pintando a faixa desgastada?
O sinal em frente da Unama da Senador Lemos é outro mau exemplo. Uma travessia perigosíssima. A todo momento, estudantes aventuram-se naquele trecho. Não há sinalização de alerta aos motoristas. À noite, nenhum sinal luminoso para advertir os condutores. Trânsito pesado. Caminhões. Ônibus. Carretas. Trânsito veloz, com bicicletas e motos. E nenhum cuidado da Ctbel por aquele pedaço de chão arriscado. Sempre que passo ali, penso também se aquela instituição não poderia reivindicar essa sinalização. E se tem feito assim, sem atendimento, o que pensar das pobres escolas de Belém, sem chances de comparação com o porte da Unama?
Todos sabemos que a Pedro Álvares Cabral e a Senador Lemos são algumas das vias mais arriscadas de Belém. Alto índice de atropelamentos. E, agora, com essas faixas nada cidadãs, a vida corre mais risco. De repente, alunos da Unama podem sofrer pela imprudência, descuido e até desconhecimento de algum motorista. Sinceramente, se eu fosse aluno ou professor de uma escola nessas situações, faria um movimento de valorização à vida. Convidaria a comunidade para fechar aquela rua (ou a própria escola) até que pedestres fossem tratados com dignidade. Isto parece radicalismo. E é mesmo, pois a vida requer atitudes radicais que evitem a morte. Depois, nada adianta para quem sofreu a violência.
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RUI RAIOL é escritor
www.ruiraiol.com.br

Um comentário:

  1. Convenhamos que fechar ruas não é e nunca foi a solução para resolver problemas. Pelo contrário, criam mais porque atinge o direito de todos.
    Fosse assim e teriamos que sugerir às jovens que fechassem ruas porque muitas estão sendo violentadas nas cadeias, o que seria outra estultice.

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