segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Amanhã há de ser outro dia


Nem tudo que é estimado, previsto, se confirma. Certo? Não se trata de dar asas à metáfora. No mínimo seria deselegante, quiçá arrogante, se verdade não fosse, que alguns detalhes confirmam, que na política, o gene das falcatruas faz parte do DNA de praticamente todos os políticos - claro, há exceções. O corrupto é um predador vigoroso. O corrupto em frente ao espelho não se vê materializado na imagem refletida, e sim um retrato possível de quem engana. O corrupto não sabe parar, ele se estabelece, porque sempre aparecem, digamos, “novidades”. Cedo ou tarde todos os cidadãos com o cognitivo normal serão vencidos por ele, o tempo. O cérebro doentio do corrupto não conhece o cronos.
Um instantâneo midiático nos deixou pasmo, a corrupção se estende à caserna e fica mais difícil acreditar, que uma instituição como a Força Armada seja suspeita de desvio milionário. Desde a primeira quinzena de agosto, a Procuradoria-Geral da República examina uma representação encaminhada pelo Ministério Público Militar. Trata-se de um pedido de investigação que complica a vida o Comandante do Exército, general Enzo Martins Peri (que é engenheiro), citado nesse escândalo, talvez o mais ruidoso da Força em mais de três séculos e meio de história. Ao todo, estariam envolvidos 25 oficiais de variadas patentes, incluindo sete generais e oito coronéis, suspeitos de fazer parte de um esquema que fraudou licitações, superfaturou contratos, fez pagamentos em duplicidade e pode ter desviado do erário público ao menos 15 milhões de reais entre 2003 e 2009, segundo cálculos do Tribunal de Contas da União (TCU).
O que revolta, e impressiona, é como os fraudadores se sentem à vontade em apostar na ingenuidade coletiva de nosso povo. Qualquer cidadão medianamente politizado sabe que “acomodações”, servem na maioria das vezes para atender, ou satisfazer, projetos pessoais. Por trás dessa emersão de denúncias existe um problema imperceptível para a sociedade civil: um conflito latente entre oficiais engenheiros - que, naturalmente, galgaram postos de influência como nunca antes, hum! - e a reação dos chamados oficiais combatentes: artilharia, infantaria e cavalaria.
Revista de circulação nacional afirma que o choque chegou a um militar a quem se atribui a construção do meticuloso dossiê de denúncias das poucas-vergonhas no Departamento de Engenharia e Construção (DEC) do Exército. Uma inoculação viral a partir do contato com o quase suspeito Departamento de Infraestrutura de Transportes (Dnit), cujos casos recentes de corrupção levaram à queda do ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento. Ademais, há pressão dos dois lados. Dos “engenheiros”, para que não se insista com novas denúncias. Dos “combatentes”, para que se denuncie mais e, se possível, entregue prováveis gravações telefônicas em seu poder, de conversas comprometedoras.
Para se ter uma ideia de enriquecimento, o major Washington de Paula acumulou mais de 10 milhões de reais em imóveis localizados em locais privilegiados do Rio de Janeiro. O major Washington é apontado pelo TCU como responsável por “montar as empresas de fachadas e maquinar, em parceria com o coronel Dias Morales, todas as fraudes”.
Ah! Na democracia é normal e salutar investigar os crimes de quem está ocupando cargos no topo da sociedade e da nação. No mais... “Apesar de você/Amanhã há de ser/Outro dia/Você vai se dar mal/Etc. e tal”. Genial, Chico.
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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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