segunda-feira, 19 de setembro de 2011
Diferenças globais
O mundo vive em decadência, mas há diferenças. Já atentaram para a desigualdade global? No que tange à economia é o processo típico da segunda metade do século 20 que conduziu à crescente integração das economias e das sociedades de vários países. Frases feitas afirmam-se periodicamente. Depois da queda do Muro de Berlim vingou a ideia de que também ruíra a ideologia como se a nova crença não fosse altamente ideológica. No momento, se você observa que nem tudo no Brasil anda às mil maravilhas, ouvirá de bate-pronto que o mundo inteiro está em crise. Mas alguém acrescentará: nesta moldura de franca decadência, até que nós estamos em condições menos graves. Até quando? Em parte, é verdade. Factual, como indicam os índices de crescimento do País, ainda bastante razoáveis.
Enquanto que, na Europa, ferve um imenso laboratório de revoltas. Na média do continente, passa de 20% o desemprego entre os jovens. Um futuro sombrio ou sem futuro. Não bastasse a situação grave e seus amargos remédios, ao que tudo indica a Europa tem agora de lidar com o risco iminente de novos conflitos sociais. A exemplo do que ocorreu no Reino Unido há poucas semanas, quando manifestantes tomaram as ruas de Londres e Manchester, economistas que estudam a situação da juventude no continente não descartam novos problemas.
Meus colarinhos agitados apontam para uma pesquisa capilar feita pelo governo alemão mostrando que a Inglaterra, França, Suécia e Polônia, sem falar nos cambaleantes Portugal, Irlanda, Espanha e Grécia, apresentam índices de desemprego para a população entre 16 e 24 anos superiores a 20%, a mais alta desde 1980. A crise é grave e se alastra pela Europa e atinge em cheio os jovens, vítimas que, acuadas, podem literalmente partir para confrontos, como aconteceu recentemente na Inglaterra, ou em 2005 na França.
A própria Alemanha, que ostenta uma das mais baixas taxas da Europa, 9,1%, não tem do que se gabar. Enquanto o governo de Angela Merkel anuncia um “segundo milagre econômico”, a precariedade no emprego aumenta. Na Bavária, por exemplo, a região mais rica, mais da metade dos jovens desempregados estão nessa situação há mais de um ano. Para poder competir internacionalmente, o país conteve salários. A estratégia alemã para manter a competitividade gera transtornos em toda a Europa. A Corte Constitucional decidiu que a ajuda financeira à Grécia, questionada dentro do país, é legal.
Por sua vez, a Inglaterra jogou-se no debate em torno do impacto das chamadas políticas de austeridades no enfrentamento da crise. Enquanto o governo conservador se apressou em chamar os distúrbios de ações criminosas, a oposição achou logo o bode expiatório nos cortes em benefícios sociais e o fechamento de centros da juventude justamente quando o país bate recordes de desemprego para os que têm entre 16 e 24 anos. O problema é que o impacto maior da tesouraria do governo ainda está por vir.
Com países como a Espanha a beirar os 45% de desocupação entre jovens, e economias centrais como França e Inglaterra em rápida degradação, a Europa corre o risco de lançar hordas na informalidade e no subemprego. Seria uma nova geração perdida, avaliam especialistas. Uma greve geral parou a Itália na terça-feira, 6, em um protesto contra o plano de austeridade fiscal do governo. Mesmo assim, o pessimismo ronda o mercado europeu. Há que se cumprir metas. Isso se a UE não se esfacelar.
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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
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