segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Admirável Império do Sol

A insistência de marchar sozinho levou o Império do Sol a criar muitas dificuldades para si. Mas isso é coisa do passado. O encantamento ocidental com o sucesso chinês é tão grande que se dá de barato que o país continuará crescendo sem parar até ultrapassar os Estados Unidos - que, por sua vez, estão fadados ao declínio. Para amenizar os efeitos da crise de 2008, o governo acelerou ainda mais o ritmo de construção. Em 2009 e 2010, os bancos emprestaram 2,7 trilhões de dólares, um recorde. Para os céticos, o perigo é justamente que esses investimentos feitos para empurrar a economia acabem em prejuízos para os bancos e para o país.
A ascensão do Império do Sol nos últimos 30 anos é um dos maiores fenômenos econômicos da história. Certamente, tudo começou em julho de 1967. Naquele ano, a China entrava no segundo ano da Revolução Cultural, um mergulho no atraso que durou dez anos e só terminou com a morte de Mao Tsé-tung, em 1976. Seu sucessor, Deng Xiao-ping, assumiu um país arrasado. Após as reformas de Deng, a China entrou numa rota de crescimento estonteante - e que mudou a cara do mundo. Os ideais comunistas passaram por um processo de absorção de outras filosofias, que acabaram por construir o atual modo de pensar chinês. O resultado é um comunismo muito particular, que muitas vezes é considerado como sendo um pragmatismo necessário à cultura chinesa e, em outras, como um desvio ideológico preocupante.
A urbanização, por exemplo, que em questão de anos criou metrópoles onde havia campos de arroz, a entrada de centenas de milhões de pessoas no mundo do consumo, a maquina de exportações que inundou o planeta de produtos baratos: governos, consumidores e empresas de todos os continentes foram afetados de alguma forma pelo fenômeno chinês.
Pois é, a fórmula chinesa, responsável pelo sucesso econômico do país nas últimas décadas, segundo especialistas, está balançando. É claro, os produtos chineses ainda são extremamente competitivos. O país aproveitou as décadas de crescimento para construir uma infraestrutura invejável (e de fazer inveja ao Brasil, parado no tempo nesse quesito, corar de vergonha). Mas, na próxima década, a vantagem de produzir na China tende a diminuir acentuadamente: a era do gigante asiático barato, “fábrica do mundo”, está começando a acabar. Será?
Na história econômica das nações, momentos como o que a China começa a viver agora são frequentes. Países que deixam a pobreza costumam se desenvolver de forma acelerada até que atingem o ponto em que é preciso encontrar uma nova fórmula para continuar crescendo. Com o fim da abundância de mão de obra, os tempos de crescimento econômico vertiginoso ficam para trás, os salários crescem, a inflação acelera. É nessa hora que surge a temida “armadilha da classe média”. Dezenas de países caíram nessa armadilha, não deram o salto (sobretudo educacional) necessário e acabaram estagnados por décadas no mesmo patamar de desenvolvimento. A maioria, infelizmente, para por aí.
Para a China, as questões que se colocam são: qual a próxima fórmula de crescimento para o país? A segunda maior economia do mundo (por enquanto) vai escapar da armadilha da classe média? Numa visão geral, pouco há que se acrescentar. No mais, a verdade é que ninguém tem a fórmula mágica e inatingível. Chega de medidas inusuais. O Império do Sol pede passagem. Dê passagem, o mundo precisa seguir em frente.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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