segunda-feira, 11 de julho de 2011
Conflitos são essencialmente políticos
Ahistória da humanidade, para alguns historiadores, começa no Éden, situado em algum lugar da Mesopotâmia, a terra do Tigre e do Eufrates. Portanto, o mundo dos primeiros antepassados dos árabes foi o mundo de dois reinos ricos e poderosos: o Egito e a Mesopotâmia.
Os árabes são uma civilização com milhares de anos de existência. Vivem na Península Arábica e na região da Palestina e Babilônia e seu legado é imenso. Pelo menos desde o ano de 630 da nossa era, os árabes construíram um império, decorrente da força da religião que Mohamed - ou Maomé, como é conhecido no Ocidente - fundou, que é o Islã.
Os árabes em todo mundo se encontram espalhados por 21 países, mais a Palestina (ocupada por Israel) e a República Sarauí (ocupada pelo Marrocos). A Liga dos Estados Árabes, fundada em 1945 no Cairo, aceita a Palestina como membro, sendo integrada assim, por 22 Estados-membros. São 8 monarquias absolutistas (ou petromonarquias, ou digamos, “monarquias americanas”, ou apoiadas pelos EUA) e 13 “repúblicas” (de fachada, pois na prática são ditaduras).
As potências vencedoras da Primeira Guerra Mundial, em 1918, a Inglaterra e a França colonizaram praticamente todos os países da região do Oriente Médio (OM) e do Norte da África (conhecido como Magrebe). Interessante observar como as fronteiras entre esses países são retas, como se fossem divididas por riscos feitos com lápis num mapa da região. As “independências”, por assim dizer, iniciaram-se em 1922 (no caso do Egito) e foram concluídas em 1977, com o Djibuti, pequeno país, localizado no nordeste da África, que sobrevive da crise no OM à medida que lucra com a ocupação local por equipes humanitárias e bases militares.
Sobre a história recente dos levantes, certa vez, perguntaram a Chu En Lai, um dos líderes da Revolução Chinesa de 1949, o que ele achava da Revolução Francesa de 1789. Tal pergunta foi feita no início dos anos 1970. A sua resposta, como bom chinês, foi: “ainda é cedo para dizer”. Danton, líder dessa revolução, dizia: “precisamos de audácia, mais audácia e sempre audácia”. É verdade. Acabou guilhotinado e quem o guilhotinou também morreu dessa forma. São as idas e vindas de uma revolução.
A questão central em todo OM não é e nunca foi religiosa. Claro que o componente religioso pode existir, mas os conflitos são essencialmente políticos. São disputas territoriais, coloniais, por recursos energéticos e hídricos. Nesse sentido, pergunta-se: Se são revoltas seculares, por que só se falam em religiões? Não há dúvidas que isso faz parte de uma estratégia midiática para tentar mostrar o pano de fundo dos conflitos do OM como religioso, para enganar as massas e, mais que isso, indispor bilhões de pessoas contra uma das maiores religiões, que é o islã.
Mas o que está ocorrendo mesmo no mundo árabe? Uma revolta? Uma insurreição? Uma rebelião? É fato que tudo isso está acontecendo por lá. Mas está, sim, em curso uma revolução nesse mundo. Que caráter terá essa revolução é que no momento não é possível prever. Será essa revolução meramente democrática e patriótica? Será uma revolução mais avançada, de caráter mais popular e progressista? Ou chegará a ser até socialista, alterando profundamente o modelo econômico dos países, que hoje são todos capitalistas de inspiração neoliberal (“financeirização” do capital)? Prefiro a resposta de Chu En Lai: “ainda é cedo para dizer”.
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SERGIO BARRA é médico e professor
E-mail: sergiobarra9@gmail.com
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