sexta-feira, 17 de junho de 2011

Missão de fogo no Brasil


Nesta semana, quando o movimento pentecostal brasileiro comemora o seu Centenário, temos a grande alegria de publicar mais um livro. Desta feita, a primeira obra do gênero ficção sobre a história da Assembleia de Deus. A edição foi encomendada à editora Paka-Tatu, especialmente para o evento. O enredo tem como pano de fundo a viagem de retorno de Gunnar Vingren à Suécia, em 15 de agosto 1932.
A bordo do navio Alabama, a família Vingren conhece Robert Clark, um jovem jornalista americano. Descobrindo que Vingren é fundador da Assembleia de Deus, Clark pede que o missionário narre suas memórias durante o longo trajeto. O resultado é uma bela síntese histórica da igreja em seus primeiros anos.
O título Missão de Fogo foi escolhido para falar da natureza arriscada da expedição, o que fica evidenciado desde o começo.
A viagem está narrada no capítulo 2: “Embarcamos no Clement, um velho vapor pertencente à Booth Line Company. Zarpamos no dia 5 de novembro de 1910, um sábado. Deus havia nos falado que a viagem seria nessa data quando ainda estávamos em South Bend. Era uma embarcação de carga e passageiro. Só havia duas passagens disponíveis. Como não tínhamos dinheiro de sobra, viajamos na terceira classe.
Éramos os únicos passageiros brancos viajando nessa classe. O porão era terrivelmente quente. Todo aquele imenso salão estava separado através de cortinas, fomando o que eles chamavam de “camarotes”. Cada um destes tinha quatro beliches. Cadeira não havia. A gente sentava pelo chão ou sobre alguns tonéis.
A comida era apenas um caneco de sopa. Depois de enfrentar uma longa fila, lavávamos a caneca e a colher e guardávamos tudo debaixo do travesseiro. Vez ou outra, a gente precisava subir para respirar o ar puro. Lá em cima, era bem diferente, tudo muito bom! Jejuamos vários dias.”
Os missionários enfrentaram também muita perseguição, conforme registrado no capítulo onze pela personagem Frida Vingren: “A missionária lembrou ainda algumas cenas trágicas vividas pela Assembleia de Deus em sua origem. Citou, por exemplo, quando trezentos homens armados invadiram um templo com apenas quinze crentes em Alagoa Grande, na Paraíba.
Contou o drama de Otto Nelson, pastor em Maceió que, tendo um filho morto com dez meses de idade, foi impedido de sepultar a criança no cemitério da cidade. Frida emocionou-se ao lembrar que os coveiros chegaram a cavar a sepultura do lado de fora do cemitério e que o enterro só foi realizado à noite, com luz de lamparinas.
Em Bodocó, cidade cearense próxima de Crato, o missionário Virgil Smith teve o fornecimento de água cortado e os comerciantes foram proibidos de vender alimento à sua família. Sua casa foi cercada para impedir que buscassem ajuda.
Frida contou o que aconteceu na cidade de Escurial, em Sergipe. Ali, os crentes da Assembleia de Deus foram presos e espancados durante vários dias pela polícia. A população saía às ruas em procissão pedindo a tortura dos irmãos.
Não esqueceu também de contar uma tentativa de assassinato contra o missionário Paul Aenis, ocorrida em Jiparaná, no meio da mata amazônica. Um homem de origem turca, inconformado pela conversão da própria esposa, atirou contra o pastor. Sem ter êxito, deu um copo de limonada envenenada ao obreiro. Porém, o veneno também não funcionou. Mais tarde, o estrangeiro se converteu ao evangelho e foi batizado pelo próprio Aenis. A missionária narrou ainda o envenenamento do missionário sueco Simon Sjögren, ocorrido em João Pessoa, na Paraíba.”
A tiragem inicial é dois mil exemplares.

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RUI RAIOL é escritor (www.ruiraiol.com.br)

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