terça-feira, 28 de junho de 2011

Hoyos, uma vida a lutar

CÁSSIO ANDRADE

Na semana em que Santarém comemora seus 350 anos de existência, perde a Pérola do Tapajós um ilustre e aguerrido filho. A história de Sebastião Hoyos não começou em 1964, mas a histórica epopéia da luta política, sim. Em meados do ano do golpe, quando a ditadura militar derruba João Goulart, brutos tomam as rédeas do país e passam a caçar oposicionistas do novo regime. Nesse cenário ganha fòlego a espetacular contenda de Sebastião Hoyos, entre o interior do Pará, o Amapá e o Suriname, desembocando nos anos 90, com a sua prisão, já na Suíça, acusado injustamente de participar daquele que é considerado o “roubo do século”. Esse roteiro de cinema, Carlos Mendonça contou em 2009 no livro Champ-Dollon, Cela 211 – Uma Aventura Revolucionária, pela editora paraense Paka-Tatu.
Uma vida em luta! Essa foi a síntese de uma vida atribulada, marcada pela fé na utopia revolucionária da geração comunista dos anos 60, nunca em conformação. A alma liberta e resistente do lutador mocorongo se evidenciou mesmo no exílio. Em entrevista acadêmica a Daniel Aarão e Denise Rollemberg, Hoyos expõe a dupla face das instituições de ajuda a refugiados: de um lado, a solidariedade, providenciando alojamento, alimentação, trabalho, roupas, documentos; de outro, a infantilização inerente à dinâmica assistencialista. Entre a necessidade e o constrangimento, Hoyos se rebatizava como refugiado, sem se reconhecer no novo papel que lhe atribuíam no exílio. Expunha seus ressentimentos com o sistema de acolha suíço onde as ajudas existiam, mas após amplos e tortuosos caminhos da solcitação mendicante. Hoyos não aceitava a migalha oferecida e procurava trabalhar para manter seu sustento.
A ousadia do revolucionário mocorongo custou caro. Corrupção e encobrimento de falcatruas na séria Suíça colocaram em xeque o sistema financeiro desse país e levaram o santareno a injusta condenação e prisão. Movimentos de solidariedades internacionais de direitos humanos ajudaram a inocentar nosso ilustre camarada.
Assim foi Hoyos: uma vida em combate. Sua morte, por ironia, no país que tanto o maltratou, deixou aos paraenses - aos mocorongos em especial - a sensação da perda típica dos que morrem em combate. Como afirmam nossas antigas tradições comunistas, resta o consolo da aventura em vida que sempre valeu a pena e, seguindo o ritual, despedimo-nos com a chamada final: CAMARADA HOYOS, PRESENTE!

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CÁSSIO ANDRADE é professor

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